De volta ao nosso expediente normal então. Perdemos no The Bobs, acho que todo mundo já estava esperando isso. Como sempre, em meio a chacina de criancinhas, tsunamis, vulcões, vazamentos nucleares e terremotos, o mundo continua dedicando a maior parte de sua atenção à falta de ciclovias. Ora, vou parar de falar isso porque senão vai parecer discurso de mau perdedor. E eu sou mau perdedor e sei que ser mau perdedor ainda não é muito bem aceito na sociedade, então bola pra frente.
O livro de hoje é curtinho. Qualquer um pode lê-lo em uma sentada (o equivalente a três vírgula sete cagadinhas, não sei qual unidade de velocidade de leitura vocês usam aí), o problema maior é desembolsar uma graninha para comprá-lo porque, veja bem, ainda se pensa muito na quantidade de páginas que um livro tem e costuma-se avaliar o preço dele baseado nisso. Gente, o livro novo da Maryan Keyes tem 800 páginas de pura abobrinha, vocês decidem onde investir vosso rico dinheirinho.
Bom, Historia abreviada da literatura portátil é um livrinho publicado originalmente em 1985 e que dá o starte a esse jeito maluco que o autor tem de passar as ideias dele pra gente, usando principalmente a) uma escrita extremamente cerebral b) referências históricas e geográficas das cidades da Europa c) alguns escritores e outros artistas pouco mais desconhecidos do grande público d) apócrifos e muitas, muitas mentirinhas, dessas do estilo pega-troxa. É isso, a literatura do Vila-Matas serve principalmente pra você que acredita em tudo o que lê começar a ficar mais esperto um pouco.
Bom, a história é a seguinte: um narrador, que não é o autor, embora ele dê a entender isso durante o livro inteiro, mas se você ler com cuidadinho você percebe que não é, está escrevendo um ensaio sobre a sociedade secreta shandy, um grupo de artistas mutcho lokos que batizaram sua seita com o nome do personagem Tristram Shandy, do Laurence Sterne, sabe aquele? A sociedade é composta por tipos do tipo do Marcel Duchamp, Aleister Crowley, Robert Walser (robard valzaaaa), entre outros, e todos eles pregam coisas como só fazer arte que não seja importante, só escrever livros pequenos e obras de arte que possam ser miniaturizadas para se carregar numa maleta, à moda da maleta de Duchamp, que cotinha suas obras. E também serem solteiros, estarem perto de pelo menos uma mulher fatal e beber uma bebida chamada Shandy, que, pelo que eu entendi, é cerveja misturada com limonada. Pra quê Activia, né?
Aí que Vila-Matas vai conduzindo a gente por esse universo de mentiradas e o leitor bobão vai caindo em todas, e depois lê a porcaria do livro e sai por aí esbanjando conhecimento. Até que toma um chega pra lá e passa o resto da festa de mau humor, chorando as pitangas de que não teve tanta chance na infância, desperdiçou sabedoria decorando nome de Pokémon e jogando Tazo no recreio, etc. Por isso, é um excelente livro que todo mundo deve ler! É meio estranho que o autor queira divertir a gente com um ensaio, não é? É que nem, sei lá, defender uma tese de doutorado em forma de espetáculo circense. Enfim, por enquanto tá dando certo, espero não enjoar dessa escrita dele, é ainda agradável e, aos meus olhos, pouco pedante se não contarmos a intenção.
Essa edição da Cosacnaify me pegou de surpresa. Achava que vinha um livro do tamanho dos outros do autor, mas veio um que é um quarto dos livros normais, e com menos de 150 páginas ainda por cima. É do tamanho de um livro de bolso, e o boboca aqui nem se ligando que o cara queria fazer uma literatura portátil. Dã. Fora isso, a edição é chique que nem as outras, e a foto da capa é, na minha modesta opinião, uma das melhores da coleção. Rosa e amarelo? Sim, tudo bem, é uma escolha heterodoxa mas, hey, se eles não fizerem, ninguém faz, a não ser talvez uma daquelas gráficas de fundo de quintal que lança uma edição do autor chamada “Mistério na fazenda” com Sandy e Junior na capa, jurando que vai ser o maior sucesso de público e de crítica, entrar pro Guiness e o escambau. Papel pólen e fonte Garamond, a belezura. É isso. Livro curtinho, resenha curtinha, mas acho que deu pra entender como é, né?
Comentário final: Toda pessoa alta é meio maluca porque vivem batendo a cabeça nos lugares. Já repararam nisso?
Li o “Suicidios Ejemplares” e fiquei um tempo com aquele livro por engolir. Até devo ter comentado contigo que não gostei, mas acho que era mais em função da expectativa que fiz sobre o autor e sobre os temas. Mas agora, lendo sua resenha, lembrei duas coisas. Esse livro resenhado por você parece a trama de um dos contos do “Suicidios Ejemplares”, em que há uma sociedade e bla bla bla. Parece, não é igual! A outra coisa é a aparente herança que os Vila-Matas pode ter do senhor Unamuno, também espanhol, que começou com essa coisa de bagunçar autor/narrador/ficção/realidade e tudo que vem daí. Até li um artigo sobre essas influências na Espanha. Me interessei por esse, vou comprar!
Abraço.
Oi Lucas, é verdade, parece um pouco com aquele conto do Suicídios Exemplares, mas é bem mais complexo e detalhado. Acho que esse Unamuno pode ser uma influência dele também, não sei. Tenho que procurar.
Abraço!
Fala Yuri, quando eu li a resenha deste livro na Folha já me interessei. O problema dos livros do Vila -Matas são os preços, estou esperando uma promoção boa da Cosac. E que bom vc não abandonou o blog! rs Estou lendo o Vicio Inerente, que loucura aquilo hein!? Já até pensei em desistir, mas agora engatou o negócio!
Abraço
PS: Melhor ser uma pessoa alta e maluca a ser uma pessoa pequena e normal! rs
E aí Raphael. Olha, eu ganhei meus livros do Vila-Matas numa promoção de 50% de desconto que a Cosac fez no ano passado, acho que em maio. Talvez esteja chegando outra assim. E o Vício Inerente, tá curtindo? E você é alto e vive batendo a cabeça, então?
Abraço!
Eu lembro dessa promoção, mas na época estava em contenção de despesas! rs Tomara que tenha este ano! Cara, o Vício Inerente é a coisa mais louca que já li, uma hora eu gosto outra detesto! Falta muito pouco para terminar o livro, e tenho quase certeza que vou acabar sem entender lhufas. hehehe mas algo na escrita dele me agradou, ainda não consegui discernir o que é!
E te confesso que já bati a cabeça em lugares inimagináveis! rs (meio estranha essa frase, mas é isso) haha
abraço
Eee, posts, resenhas. Continua com o Livrada, Yu.
Beijos.
Até onde for seguir, querida!
Beijo!
o livro não me é nem um pouco interessante, e o precinho… absurdamente caro ;x
passo
que tal resenhar o livrinho na nova “sensação” da flip Pola Oláxereca?
Em breve, Leonardo!
Abraço!