F. Scott Fitzgerald – O Grande Gatsby (The Great Gatsby)

Great GatsbyOra, ora, ora, se não é os cara do Livrada! invadindo a cidade. Junte sua mãe, seu cachorro e sua sogra, chame todo mundo que o coro vai cumê agora que estamos com um clááássico na literatura em nossas mãos, pronto para ser destrinchado por esse crítico de meia-pataca que vos fala. O Grande Gatsby, um livrinho do rapazote da era do jazz, o senhor F. Scott Fitzgerald.

Antes de mais nada, gostaria de levantar um questionamento: por que diabos alguns autores abreviam o primeiro nome? Ok, um J.M.G. Le Clézio até vai, é muito nome pra decorar, e um Vidiadhar Surajprasad Naipaul pode enrolar muita língua na hora da pronúncia, mas que mal há em um “Francis” em F. Scott Fitzgerald? Se o cara assinasse como Francis Scott ia ser até mais fácil pra uma galera, e Francis Fitzgerald até poderia ser sonoro. Só ver a baiana que o Salman Rushdie rodou quando a galera da Wikipédia escreveu um artigo sobre ele com seu primeiro nome, Ahmed. Vai entender…

Bom, O Grande Gatsby é mesmo um grande livro (metaforicamente. Fisicamente, é pequenininho), mas me parece que é um daqueles clássicos casos em que se você não sabe o que esperar da leitura, ela não ganha a proporção que merece. E é aí que entra a figura maravilhosa do crítico maravilhoso que no caso sou eu, chuchu. Vamos combinar então: vou te falar porque esse livro é um livraço e você vai acabar gostando muito mais dele quando ler. E se já leu, sei lá, posso te acrescentar algo. Assim espero.

A história do romance, que se passa nos anos 20, é narrada por Nick Carraway, um aristocrata decadente com um nome já apagado pela obviedade da escolha. Ele mora em East Egg, um lugar que existe de verdade só que com outro nome. Não vou entrar em detalhes porque mando malzão na geografia, mas o fato é que em West Egg, o bairro burguês vizinho, mora o misterioso ricasso Jay Gatsby, um jovem que mora sozinho numa mansão pimp-style e dá várias festinhas pra high-society. O estilo de vida de Gatsby intriga Carraway, que visita sua prima Daisy e seu cunhado Tom Buchanam, nomes que eu só citei aqui porque serão importantes para o enredo, mas não necessariamente para esse pequeno resumo.

Nick então começa a ficar amigo de Gatsby e descobre toda sua verdadeira história, uma história que passa por doses muito saudáveis de amoralidade e insinceridade. Enfim, uma história bem humana. E é então que a vida de Gatsby começa a mudar: ele pára de dar festas e procura, como diria aquele personagem machadiano, amarrar as duas pontas da vida de uma forma que eu não vou explanar, porque é demais.

Vamos ao que interessa: O Grande Gatsby é um livraço porque dá um panorama bem interessante de algo que até então era pouco explorado: a intimidade da alta-sociedade, seus trejeitos e maneirismos. Fitzgerald sabia do que estava falando, era um membro ativo dessa sociedade, e mostrou para o resto do mundo como realmente viviam os ricaços por trás da fachada de risadas aristocráticas e banquetes pantagruélicos. E o mais legal de tudo é que é uma visão um tanto desoladora e nada grandiosa sobre a vida. Nada daquilo de “homem rico pobre de espírito”, é um sentimento de vazio da vida que é inerente a todo mundo, mas que nós, pobretões que vamos de coletivo pro trabalho, imaginamos que é preenchido com dinheiro. Isso sem falar que é uma tragédia grega no sentido mais clássico, no melhor estilo Antígona ou O Magnata, aquele filme escrito pelo Chorão (e você achou que a referência ao Charlie Brown Jr. no começo do texto era por acaso. Nada é por acaso nesse texto, irmãozinho), então não se preocupe porque você não vai encontrar um daqueles livros perdidos nas próprias ideias, sem gancho pra uma história boa, tipo A Náusea. Manja A Náusea? Se você também ficou nauseado com aquela chatice, vem comigo ler o Gatsby.

O maior problema dessa resenha é que não há muito o que falar do livro sem estragar algumas surpresas, dar uns spoilers pra galera. Se me chamassem para falar sobre esse livro pra uma turba que já o houvesse lido, a história seria outra. Espero que me entendam, no fundo, no fundo, estou sendo mega legal com vocês, não-leitores de Gatsby, e sendo mei escroto com vocês, leitores. Em um sentido amplo, estou valorizando a ignorância, sim. Mas isso é uma coisa boa. Instigar é a melhor maneira de fazer uma pessoa fazer o que você quer que ela faça.

Essa edição da Penguin Companhia é muito bonita, tem tradução nova da Vanessa Barbara, que é ótima e colocou várias notas de rodapé pra te situar na época e no lugar do romance. O livro tem formatinho pequeno, não machuca ninguém, e vem com uma apreciação crítica muito bacana do Tony Tanner, que apesar do nome, não é atração de nenhum cassino de Las Vegas. Aliás, com a apreciação dele, vocês vão poder dar mais valor à obra, mas só pode lê-la depois de ler o livro, senão meu trabalho aqui em esconder o jogo terá sido em vão. Contamos com os senhores.

A propósito: CURTAM A PÁGINA DO LIVRADA NO FACEBOOK! Já passamos de cem! Uhul! Bora pra próxima centena.

Comentário final: 250 páginas em papel pólen. Mata uma aranha no cantinho, e só.