Enrique Vila-Matas – Doutor Pasavento (Doctor Pasavento)

Doctor PasaventoComé que é, negada! Geral se aguentando pro projeto verão? Tem que ficar com o corpo em forma, senão periga de você passar esse ano sem receber dos outros aquela coisa gostosa que parece amor maciço mas é só medo e solidão banhados a amor. Enquanto você se priva aí de um prazer pra tentar ganhar outro nessa lógica maluca que todo mundo acha que entende, chegaí pra se alienar no Livrada! O livro de hoje é um petardo.

Doutor Pasavento. Acabei de acabar de ler esse livro e vim aqui contar pra vocês como é. Viu como eu sou legal? Viu como eu vou te ajudar a colocar na tua bagagem cefálica algo além do nome de todos os Pokemons, das letras dos Beatles, do penteado do Jordan do New Kids on the Block, de piadas (piadas?) do Friends, enfim, algo que preste. (Ih, coloquei as letras dos Beatles no meio, sujou!) Mas, como esse é um blog isento de embasamento, fiz o favor de não ler nenhuma crítica, resenha, comentário, o que seja a respeito desse livro, afinal de contas, o nosso trabalho é abastecer o Google e não chupar dele o nosso conhecimento, como alguém já disse alguém por aí. Então, que fique bem claro que aqui é só a minha humilde opinião, belê?

Pois bem. Doutor Pasavento é um romance/ensaio sobre o ato de desaparecer. O protagonista do livro, sem nome, mas que se parece em muitos aspectos com o próprio Vila-Matas — algo que ele faz de monte nos seus livros — é um escritor consagrado que está farto do reconhecimento que recebe e deseja sumir pra suprir aí umas necessidades inerentes no ser humano que só Freud explica. Bom, Vila-Matas tenta explicar também, e traça paralelos com a vida do escritor suíço Robert Walser, o gênio irreconhecido, o Captain Beefheart da literatura européia, e de como a sua internação no hospício, onde passou os últimos 23 anos de sua vida sem escrever picas ajudou-o no processo de desaparecer. Ao mesmo tempo, analisa um pouco a situação em que se encontra no momento em que toma a decisão: indo para Sevilha para dar uma palestra sobre a “ficção dançando na fronteira com a realidade”, um tema que só pelo título dá vontade de vomitar. Hospedado na rua Vaneau, em Paris, o escritor começa a viajar na maionese pra criar relações entre aparentes coincidências e fica realmente maluco com isso. Daí cria um personagem, um alter-ego para si: o Doutor Pasavento, doutor em psiquiatria que curte se meter em casos de pacientes alheios.

Não contente com a sua dupla vida, acaba criando uma terceira persona, e depois uma quarta, o Doutor Pynchon, que, assim como o escritor americano, gosta de ficar relacionando tudo por acreditar que tudo no universo está conectado. Pynchon é citado também por ser uma pessoa misteriosa: ninguém sabe quem ele é, com quem ele se parece, porque ele não dá entrevistas nem sai de casa. Tipo um Dalton Trevisan bem sucedido, isso aí. Assim, ele escreve no seu moleskine sobre seu desejo de desaparecer e perambula por certos lugares, ou finge que perambula. Conta histórias como se estivesse na Patagônia, mas estando num hotelzinho em Paris, e passa o final do livro num lugar chamado Lokunowo, que eu tenho a ligeira impressão de que não existe de verdade.

A graça do livro está em ver a transformação do personagem para, realmente, outra pessoa completamente diferente do que ele era no começo do livro. Nesse sentido, Doutor Pasavento também é um romance de formação. Ainda que ele não mude seu estilo de escrita conforme muda a personalidade, é notável o trabalho do autor pra transparecer essa realidade, e, junto com ela, tratar de alguns temas conhecidos dos escritores, como a fama e a cacetada de moleques pedantes que ficam na sua aba pra que você leia os originais deles. A literatura quase sempre é a questão central do autor, pelo que eu andei percebendo.

Essa edição da Cosac Naify é um pitéu, é ou não é? Já falei um pouco dela quando resenhei o livro Suicídios Exemplares, do autor, então não tem muito o que falar, a não ser que esse tem um poder letal maior, afinal são 410 páginas na sua cara. Ah, o livro ganhou aí alguns prêmios, como o da Real Academia Espanhola, em 2006 e o Mondello, de Palermo, na Itália, então acho que o cara presta, afinal de contas. Não sei se sabem, mas ele, quando era um Zé ninguém, alugou um apartamento em Paris da escritora Marguerite Duras e, na cara dura, pediu pra elas uns conselhos de “como ser um bom escritor”. E não é que a dona fez uma listona pra ele? Acho que deu certo, afinal. Vamos ver quem me arruma uma lista dessas agora.

Comentário final: 410 páginas pólen soft. Pra tomar aquele verdadeiro chá de sumiço.

Ps: Algo na cara do Vila-Matas me lembra o Jello Biafra…

Caco Barcellos – Rota 66

Olelê, Olalá, não para de chegar livrorreportagem nesse blog. Fazer o quê se eu li muito dessas coisas, né, gente? Mas ó, fica por aí que o livrorreportagem (alguém já se acostumou com essa nova ortografia?) de hoje é mó bacaninha.

Rota 66 – A história da polícia que mata. O nome parece meio óbvio pra mim. Pelo que eu saiba, toda polícia mata, e isso eu sei desde pequetitinho. Acho que o subtítulo poderia ser algo como “A história da polícia que mata gente que não tinha nada a ver com a história”, já que o livro é introduzido com o assassinato de jovens de classe média que nunca foram metidos com crime. Se bem que depois aparecem casos de policiais matando ladrões de galinha e outros criminosos da terceira divisão do mundo do crime, mas a ideia de Caco Barcellos com esse subtítulo era retratar a polícia que mata de lambuja, sem haver necessariamente o confronto armado com os meliantes. É, deixemos a definição assim.

Rota 66 é um livrorreportagem um pouco diferente, pelo menos na sua primeira metade, porque trata muito mais dos bastidores da investigação da matéria do que dos fatos propriamente ditos. E, na moral, que investigação! Nem o maluquinho do 60 Minutes faz uma parada dessas. É papo de ficar documentando quilos e mais quilos de papelada engavetada coberta com cocô de mariposa, rastrear o número de série de uma arma, desde sua primeira compra até seu último dono, fazer mancha criminal, estatística das mortes pelas mãos da polícia, etc. Fora as entrevistas, pesquisas e a redação de praxe. E tudo isso sozinho, cumpádi, com a ajudinha do estagiário no máximo. Assim, na cara de alemão e na coragem, Caco Barcellos mete o bedelho onde não é chamado para contar as histórias dessas vítimas e suas famílias, e narra tudo como se fosse um filme de ação, uma espécie de Máquina Mortífera sem a parte do humor que lhe é peculiar.

Acho que, na época em que o livro foi publicado, a ideia de que a Rota matasse gente inocente era tão inacreditável quanto dizer que o trailer do filme do Jabor está sendo aplaudido nos cinemas. A Rota sempre teve muito prestígio em São Paulo por ser a “polícia que resolve as coisas”. Mais ou menos o destaque e a idoneidade que foram conferidos ao Bope depois do Tropa de Elite. A comparação é clara porque o Bope é quase uma Rota do Rio de Janeiro. Aliás, aqui em Curitiba existe a Rondas Ostensivas de Natureza Especial, a Rone. Se bem me lembro, quando eu era criança, eu cortava o cabelo com um barbeiro gay que morreu de Aids e que também se chamava Rone, ou Roni, ou Ronan, sei lá. Fato é que toda vez que eu leio Rone no carro da polícia eu lembro daquele magro barbeiro boiolinha que morreu de Aids. Espero que não apanhe da Rone por essas lembranças.

Tergiversei. Dizia eu que a Rota tinha muito respaldo na sociedade paulistana na época do lançamento do livro. E, é de se imaginar, Rota 66 foi um baque na popularidade da tropa por uma descrição tão brutal de seus policiais. Claro que isso não vai ser choque nenhum caso você seja do tipo de pessoa que fala “bandido tem tudo que morrer mesmo!”. Isso, aliás, é outro aspecto da cultura da classe média que Barcellos tentou abalar com esse livro. A sociedade ainda não entende o conceito do criminoso casual, que tem um empreguinho, mas tunga lá uma coisa ou outra pra complementar renda. Acha que bandido nasceu bandido, faz bandidagem 24 horas por dia e secretamente balança a cabeça quando a empregada chega chorando dizendo que o filho tá na cadeia. Infelizmente, essa consciência humanitária com bandido foi longe demais, e hoje em dia o que não falta é galerinha descolada com (parafraseando o Tropa 2) peninha do vagabundo, atestando que sabe mais do que todo mundo sobre a realidade social em que vivem os pobres que apelam para a violência, e bota o dedo na cara pra dizer que a gente não sabe nada porque nasceu loiro. Tá certo, não vou entrar no mérito da discussão, mas aí, povo, bora deixar de ser prepotente, belê?

Essa edição da editora Record seguiu a linha do outro livro do Barcellos, o Abusado, que também já foi resenhado aqui. Só que é menorzinho e sem imagens. Maldido papel offset, fonte Stone Serif, que é uma das poucas fontes confortáveis de se ler em papel branco desse jeito; Capa maneríssima com uma foto sépia e saturada de um sujeito mauzão da Rota de braço cruzado com relógio de ponteiro (sempre achei que militar e polícia só usava relógio G-Shock), e título, subtítulo e nome do autor em destaque na caixinha de cores preta, branca e laranja. O corte e o encadernamento do papel é bem legal, fica um tijolinho compacto e que passa voando, você nem vê. Eu mesmo li esse livro em dois dias. Foi massa.

Comentário final: 350 páginas em papel offset 90g/m². Porrada neles, governador!

 

Haruki Murakami – Do que eu falo quando eu falo de corrida (What I talk about when I talk about running)

What I talk about when I talk abour runningHoje é domingo, e ninguém quer saber de literatura hoje, êêê! Ainda assim, o rapazote aqui cisma em soltar uma resenha nesse dia em que nem Deus trabalha. Mas tá maneiro, vamos lá.

“Oba, literatura japonesa”, pensou o leitor desavisado que não sabe que Haruki Murakami é o japa menos japa da face da terra. Sim, ele é japonês, edokko da gema, mas não faz nada que de longe nos remeta àquela musiquinha “tan tan tan tan tan BUOOONG” que vem na sua cabeça quando você pensa em Japão. E, pra piorar, vamos falar de um livro que, por si só, já é distanciado de toda a literatura produzida pelo rapazote. Trata-se de Do que eu falo quando eu falo de corrida, um livro que reúne pequenos ensaios sobre o ato de correr, aquela coisa sofrida de que ninguém gosta, mas faz por um estranho desejo de se machucar e por uma mais estranha ainda vontade de ouvir o doce som das suas coxas flácidas batendo uma na outra.

Antes de tudo, um breve resumo da ópera (ó como eu sou legal, gente! Vocês podem sair daqui mentindo pra todo mundo que leram um livro): Murakami tinha um barzim de jazz em tóqui, fumava como um Humphrey Bogart de olho puxado e tava encostadão na vida, até que teve a ideia maluquete de escrever um livro, e começou. Deu certo, conseguiu ser publicado e resolveu viver disso. Passou o ponto da birosca e pensou: “tá, vou ficar aqui o dia inteiro com o rabo sentado nessa cadeira botando letra no papel. Preciso fazer alguma coisa para não virar um primo distante do Jabba”, e resolveu começar a correr. Bom, sei lá, eeeeeeeeeu prefiro algo menos agressivo como pedalar ou andar de skate, mas o fato é que ele começou a dar umas carreirinhas aqui, outras lá e, um ano depois, o sujeito tava correndo nada mais, nada menos que a maratona original, da cidade de Maratona até Atenas! Bom, não poderíamos esperar outra coisa, afinal, há, muito bem inculcado no nosso insconsciente coletivo, o estereótipo do japa baixinho maluco e, bem, Murakami não parece um primor de altura. A partir daí, faz um programa de corrida diária e participa de pelo menos uma maratona por ano. Entre uma corridinha e outra, escreve um livro, um ensaio (como os desse livro) e traduz para o japonês a obra do escritor Henry James.

No livro então, o autor esclarece a nós, sedentários convictos, questões cruciais como “o que passa na cabeça de uma pessoa enquanto ela está correndo?” e “o que leva alguém a correr uma maratona?” e outras lições simples do que ele aprendeu em sua vivência como corredor. E quando eu falo em lições, não espere nada do tipo Minutos de Sabedoria do Dalai-Lama, ou A Arte Cavalheiresca do Arqueiro-Zen, ou A Arte da Guerra. O cara não se acha até altas horas pra ficar te cagando regra, amigão.

Algumas coisas me impressionaram muito nesse livro. A primeira é de ver como o japa é um senhor atualizado e modernoso. Que tipo de sexagenário (que ele é, ok? Não se deixe enganar pela cara de pêssego) corre todos os dias e coloca no mp3 player coisas como Gorilaz, Beck e outras paradinhas descoladas da galera sarada? Tudo bem que na maior parte do tempo ele só ouve Lovin’ Spoonful, uma banda muito da furreca que tocava nos anos 60 e cujo maior sucesso ouvi uma vez numa dessas coletâneas de banca de jornal, mas o título me foge agora. Ainda assim, é admirável. Outra coisa que me impressionou foi ele ter corrido uma ultramaratona — cem quilômetros em um dia, amizade. CEM! Aposto que agora o estereótipo do japa baixinho maluco está começando a se tornar mais claro, né? É pra botar os bofes pra fora ou não é correr tudo isso num dia? E, por último, me impressionou o fato de eu ter me interessado tanto por um livro que fala sobre corrida quando eu mesmo não gosto de correr. Acho que isso é um mérito inegável pro escritor: fazer você gostar de um assunto que você não gosta. E, apesar de ser uma escrita altamente simples, sem floreios, sem frufru, sem ui ui ui ai ai ai, é altamente cativante (talvez até por causa disso, mas eu geralmente não curto esse tipo de simplicidade).

Esse livro foi o último do autor a ser lançado pela editora Alfaguara, que geralmente costuma ser arbitrária nas capas de seus autores mas que, no entanto, parece ter um projeto de imagens de capa muito específico para o Haruki queridão. Sim, falo desses raios de “sol nascente”, a única coisa do livro que faz tocar na sua cabeça o “tan tan tan tan tan BUOOONG”. Só que, pra esse livro, escolheram raios pretos e brancos que podem ser vistos até o seu centro, onde aparece a silhueta de um homem correndo. Ou seja, é psicodélico demais, e se você girar esse livro na frente de alguém, se prepara para pegar a vítima no ar, porque o desmaio é quase certo. Eu mesmo recebi esse livro num dia fatídico em que me descobri com uma dessas viroses de inverno que fazem você encher o tênis a qualquer hora, e eu, já meio grogue, de pressão baixa e fortemente desidratado, achei que essa capa pareceu a porta do apocalipse se abrindo na minha frente. Foi maneiríssimo. Fora isso, é aquele padrãozão da Alfaguara que já estamos carecas de saber: um livro bom, bonito e relativamente barato. Ah, tem uma foto do Haruki Murakami correndo logo nas primeiras páginas, uma foto da década de 80 com a câmera posicionada no chão, o que dá um efeito de Rocky, um Lutador na terra do tokusatsu. Enfim, recomendo pra quem é adepto desse tipo de masoquismo, ok? Bom domingo pra todo mundo.

Comentário final: 152 páginas em papel pólen soft. Corra para as montanhas! (Mentira, nem corre, o livro é inofensivo)

 

Jorge Luis Borges – O livro dos seres imaginários (El libro de los seres imaginarios)

El libro de los seres imaginariosVish, garotada. Passamos o ano inteirinho sem falar do Jorge Luis Borges, mas não foi por mal. Vieram outros autores na frente, mas a estante aqui de casa está sempre reservada para mais livros desse cabra da peste.

Antes de mais nada, novidades! Agora ali do ladinho fiz uma página de recados para lembrar-lhes de suas obrigações cívicas perante este fescenino blog. E já coloquei lá, para começar, o velho lembrete de mandar as fotos de suas estantes. Então, como diz a Eliana, fiquem ligadinhos, ok? E vamos ao que interessa.

Tirou o cavalinho da chuva quem estava esperando, para começar, um comentário sobre Ficções, ou O Aleph. Se vocês repararem na cronologia do blog, frequentemente começo a falar de um autor por um livro, digamos, Lado B. Isso é resquício dos ensinamentos do professor Polaco, que disse para nunca alimentarmos a conversa de buteco dos outros dando a obra mastigada. Então, filhote, quer pagar de inteligente com teus comparsas entre uma Carlsberg e outra? Vá ler Borges por conta própria, é ou não é?

Bom, apesar de tudo, O livro dos seres imaginários, nosso foco de hoje, também é um grande e importante livro do autor. E se você chegou no planeta agora, trata-se de um compêndio sobre seres imaginários extraídos do folclore do mundo ou pensados por outros escritores, como o bicho esquisito da escada que Kafka conta em um de seus contos, acho que tem no Narrativas do Espólio, se não me engano. E é basicamente isso: a cada capítulo, um animal, com as explicações sobre sua origem, suas particularidades e, quem sabe, um pouco da história de sua criação.

Agora vê só como essa raça chamada argentino é: Borges sempre foi na contramão de toda aquela galera caliente latina que escrevia histórias fantasiosas de viajar na maionese bonito. Não que a literatura dele seja pé no chão, muito pelo contrário. Mas é, antes de tudo, na razão em que ele baseia suas excursões pra fora da casinha. Por isso escolhi esse livro. Ele mostra bem o tipo de rato de biblioteca que o Borges foi, e quase todos os contos tem algum embasamento em história ou literatura alheia. Talvez o mais emblemático seja mesmo o famoso Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, por tudo isso que eu disse, mas deixemos pra falar dele uma outra hora.

O livro dos seres imaginários realmente mexe com a sua cabeça, de ver como as pessoas tem imaginação fértil e você aí, achando que Se eu Fosse Você 2 é o filme mais maluco da história. Talvez o bahamut seja o mais doido que eu tenha visto no livro, mas é difícil dizer, são vários, com nomes estranhíssimos do tipo ‘a bao a qu’ ou ‘abtu e anet’. Alguns já se conhece, outros nem tanto, mas para isso, tá lá o livro do sujeito que, aliás, não é tão fantasioso assim. Nos catálogos do Plínio, o Velho, rapazote naturalista romano que viveu quando os anos só tinham dois dígitos, apareciam muitos bichos que não existiam entre outros, de carne e osso. Acho que o que Borges quis fazer foi pegar o trabalho de Plinio e tirar todos os que já existiam e fazer um compêndio mais completo de seres de mentirinha.

Esse livro faz parte da Biblioteca Borges que a Companhia das Letras está lançando aos pouquinhos. A Biblioteca Borges é a prova viva de que um bom projeto gráfico alavancam as vendas de um autor. Veja só que até bem pouco tempo atrás, antes da editora começar a lançar os primeiros volumes, a editora Globo tinha dois ou três calhamaços com a obra completa do escritor a um preço ridículo, algo como 30 ou 40 reais cada livro. E ninguém nem tchuns pro negócio até que começou a aparecer esses (e o livro dos seres imaginários foi um dos primeiros títulos lançados). Vish, choveu neguinho pra coçar o bolso e adquirir um exemplar. A ideia deu certo e até hoje a editora está lançando esporadicamente volumes da obra completa do autor, com capas que estampam pinturas que não poderiam ter sido melhor escolhidas para casar com a vibe do argentino. Um troço quadradão, de linhas precisas e cores chapadas. Essa no caso é da artista plástica Judith Lauand, uma simpática senhorinha que gosta desse lance de equilíbrio e ritmo sem formas difusas. Com a dona é pão pão queijo queijo, amigo. A tradução é de Heloísa Jahm, uma tradutora muito da versátil, porque já traduziu do inglês, espanhol, francês, italiano, sueco, enfim, a moça é boa e assina a tradução de obras de Marguerite Duras, Conan Doyle, Julio Verne e Apollinaire. Então, respect! No mais, papel pólen soft e fonte Walbaum, usada na Biblioteca Borges toda.

Comentário final: 218 páginas em pólen soft. Hoje tô sem ideia de comentário final. Mas isso não faz diferença mesmo, né?

 

Nicolau Sevcenko – A Revolta da Vacina

Aí rapaziada, muita calma nessa hora. Hoje não estamos falando de qualquer autor, um vagabundo qualquer que resolveu escrever livros ao invés de ter um emprego de gente grande. O autor de hoje é nada mais nada menos que Nicolau Sevcenko, o bambambã da USP, que por acaso também é o tradutor da edição nova de Alice no País das Maravilhas. Se você não sabe quem ele é, vergonha na cara e Google no browser já, monstrengo ignoranteeee. Enquanto isso, vamos ao que interessa.

Sevcenko é então o mais novo integrante da coleção ensainhos, da Cosacnaify (falamos mais sobre isso ao final), com o livro A Revolta da Vacina. Pra você que fez supletivo, a revolta da vacina foi uma quebração de pau no Rio de Janeiro do começo do século XX, quando tiveram a ideia de detetizar a população pra ver se a varíola sumia da cidade maravilhosa. O problema é que se neguinho já é xucro com a pobretada hoje em dia, imagine só naquela época em que briga de bar não terminava até que tivesse uma mãe chorando. E tu achando que tinha Zé Gotinha dançando Ivete Sangalo na porta do posto de vacinação, né? A vacina era na base da porrada mesmo, filho. Pra piorar, não fizeram muita questão de explicar como a injeção mardita funcionava, e o povão mal informado só entendeu dessa história que o governo, que já não gosta muito de pobre, resolveu dar um “remédio” de graça pra geral que consiste em injetar a doença direto nocê. Ah, filho, a jurupoca piou bonito. Desmancharam a campanha de vacinação embaixo de cacete, e sobrou pra todo mundo. Teve nego bloqueando a rua, chinelo havaianas voando pra tudo que é lado e precisaram chamar as forças armadas pra dar um jeito na coisa. Morreu muita gente. E você achando que sua irmã era a pessoa que mais tinha medo de agulha na face da terra.

O livro então, procura traçar um panorama do episódio, explicando o que levou o governo a campanha tão drástica e por que, ou por quem, o povo se descabelou desse jeito (não, não era vontade de ficar doente, dona Fátima, tenha paciência). Compilando textos de autores da época, incluindo o vívido depoimento de um jornalista que viu de perto a cobra fumando, além de charges e fotinhas sobre o episódio, pra dar aquele tchananã de pesquisa histórica bem feita.

Na moral, peguei esse livro pra ler porque gosto muito do episódio histórico (quem é que não gosta de ver um efeito borboleta bizarro tipo a Guerra do Pente?), mas me surpreendi mesmo com a maneira lúcida e acessível com que o autor lidou com o assunto. Tudo bem que o livro é pequeno, mas devorei a leitura rapidão, de tão interessante que ele deixou tudo. E isso sem ficar aqui que nem eu recorrendo a piadinha marota ou apelando pros escândalos e polêmicas da história. É só no papo reto mesmo, mano, tá ligado? Ah, se todo livro de história fosse assim… esses maconheiros cabeludos que andam de calça jeans e sandália iam estar todos empregados dando aulinhas pra molecada. Enfim, mais um livro pra botar na estante e reforçar a ideia de que o Sevcenko é um monstro no palco e no estúdio (pergunta pro Thaíde, ele sabe).

E essa tal de Coleção Ensainhos da Cosacnaify? Bom, é uma coleção de ensainhos, cabeção, queria o quê? Tua mãe pintada de azul? Os livrinhos abordam de leve temas diversos, o suficiente pra saciar sua vontade momentânea de querer ser culto, ou o suficiente pra você ficar com a pulga atrás da orelha, mexer o rabo do sofá e procurar saber mais. O acabamento desse livro é sensacional. No verso da capa e da quarta capa, mapas do Rio de Janeiro da época, delimitando o projeto de urbanização criado pela prefeitura e pelo governo. Páginas cinzas para diferencias textos assinados por outros autores e um posfácio à edição de 2010 que é, no mínimo, emocionante. Papel pólen e fonte Perpetua, chiquerérrima com o formato do livro. Sabem que não faço isso muito, mas esse eu recomendo fortemente, foi uma das melhores leituras que fiz em 2010.

Comentário final: 140 páginas pólen soft 80 g/m². Corre, bino!

 

Vencedor da Promoção – A estante do Sr. Raphael Pousa

Salve, salve! Olha eu aqui abrindo mais um post com uma saudação ridícula digna de um VJ da MTV. Serião gente, depois de hoje, nada de falar “salve, salve”, ok? Bom, anteontem, dia 8, foi mais um aniversário do Livrada!, que completa sete meses, aê! O crescimento do site é satisfatório, tendo em vista que as visitas não param de crescer e que a literatura não é, por definição, muito procurada. Então temos que comemorar! Decidi esse mês homenagear o sr. Raphael Pousa, feliz e cagão vencedor da promoção Comentário número 500 do Livrada! Raphael comentou pela primeira vez no Livrada! e venceu a promoção. E, para provar que não sou nenhum charlatão, pedi a ele que, gentilmente, enviasse uma foto com o livro. Eis aí então: Promoção

“Sou um feliz vencedor!”

Como também estou pedindo aos srs que me mandem fotos de vossas estantes de livros, o sr. Pousa foi ainda mais gentil e enviou fotos de sua bela coleção de livros. Percebi que o vencedor da promoção é um leitor com gostos muito semelhantes aos meus, pois compartilhamos muitos títulos em comum. Colocarei links para os quais já houve resenhado. Senão vejamos:

Nessa foto, vemos alguns de seus livros. Destacam-se ali o Desonra, do JM Coetzee, na novíssima edição luxuosa; Suicídios Exemplares, do Vila-Matas; A Humilhação e Indignação, do Philip Roth; a Invenção de Morel, do Bioy Casares (esse não tenho); Bolaño, só os maiores; Na Natureza Selvagem, que virou filme (não tenho); alguns da Inês Pedrosa (também não tenho), algum sucesso de vendas do dr. Richard Dawkins (não); o quadrinho Cachalote que, francamente, não entendi muito, e o maravilhoso Chabadabadá, do macho-jurubeba Xico Sá.

Aqui temos alguma coisa do Chico Buarque; o livro que eu mandei, Plataforma; Esperando Godot, uma das únicas peças boas desse mundão de deus; um calhamaço do Saul Bellow, de quem resenhei Henderson o Rei da Chuva; Ironweed, do Willian Kennedy, Erec e Eneide, do Montalbán, que comprei num impulso num balaio de 9,90 e a nova edição de O Teatro de Sabbath, de Philip Roth.

Eis aqui algumas pequenas grandes coleções: Luis Fernando Verissimo e Saramago. Os títulos ali incluem uma edição antiga de Memorial do Convento, e os livros que partilhamos: Todos os Nomes, a Viagem do Elefante, as Pequenas Memórias, As Intermitências da Morte, Don Giovanni e O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Alright!

 

Gabriéis Garcias Marquezes diversos, incluindo o já resenhado Memória de Minhas Putas Tristes, alguns livros do Chico Buarque (mais Chico Buarque?). Uma edição antiga de Benjamin e a edição laranja de Leite Derramado, que venceu todos os premios populares desse ano (mas não vamos discutir isso, não quero mais inimigos além dos que eu já cultivo). Aí sim, temos o já famigerado Lobo Antunes, sobre o qual já declarei minha posição, sob vaias e protestos dos demais, e vários livros do Rubem Fonseca, uma bela coleção que contém uma luxuosa e desbotada edição de Diário de um Fescenino e o livro Agosto. Ah, não é por nada não, mas babo muito nessa compilação de contos, mas é ruim de achar quem queira se desfazer de uma dessas.

Mais coleções: As ilusões Armadas, do Elio Gaspari (incompleta), dois calhamaços dostoievskianos da editora 34 e a simpática coleção de clássicos da Folha. Tem que ler esses livros aí, hein?

Aqui a coisa começa a ficar confusa. Darcy Ribeiro, Lya Luft, Cony, Adam Thirlwell, Nietzsche, Luc Ferry, Paul Auster e uma edição da idade do Bronze de Grande Sertão Veredas, ao lado de uma pequena coleção de títulos do Fernando Morais. Pô, sujeito, que mistureba! Se decide aí!

 

Pra terminar, uma metade mística-filosófica da estante com A Viagem de Theo, vários de Jostein Gaarder, Paulo Coelho (cof cof) e uma não tão simpática coleção do Estadão. Da outra metade, a preciosidade O Rei de Havana, Marçal Aquino, Machado de Assis, Thomas Eloy Martinez (o livro sobre a Evita), Alan Pauls e um almanacão do professor Pasquale porque ninguém nasceu sabendo!

 

É isso, galera! Já sabem: mandem as fotos de suas estantes para bloglivrada@gmail.com, o tempo está se esgotando. Raphael, desculpe qualquer brincadeira aí, sua estante é nota 10 e você é um ótimo leitor e interlocutor desse blog.

Abraços a todos!

 

Italo Calvino – O Barão nas Árvores (Il Barone Rampante)

Il Barone RampanteE aí, meus amigos, como vão vocês? Sei que hoje é domingo, mas, nesses dias, todos os dias estão sendo domingo pra mim. Estou aqui desfrutando de sombra e água fresca numa praia paradisíaca mas não esqueci de vir aqui. Vê se pode. Bom, hoje também é o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, um dos esportes mais chatos que já inventaram na história da humanidade. Por isso queria mandar um oi muito especial para quem se descambou pra Sumpaulo, pagou quatrocentos reais pra ficar surdo e ficar virando a cabeça de um lado pro outro, enfim, saiu da zona de conforto totalmente justificável e vantajosa da poltrona de sua casa pra ver garotos ricos gastando gasolina em plena guerra do petróleo.

No último post, sobre o Dia da Coruja, nosso amigo Lucas comentou (aliás, os comentários estão rareando. Seria hora de uma nova promoção?) que não conhecemos os escritores italianos como deveríamos. Por isso resolvi falar aqui do Italo Calvino (de novo! e, por favor, vamos tratar de esquecer que ele nasceu em Cuba, ok?), porque se não somos lá muito íntimo dessa turma que curte um rondelli e uma mina gordinha, podemos bater no peito e dizer com orgulho que O Barão nas Árvores é figurinha carimbada na estante da galera. Isso porque tá pra nascer quem não goste desse livro emocionante, maravilhoso, estrogonoficamente sensível e inoxidável, segundo volume da trilogia Os Nossos Antepassados, que ainda contam com O Cavaleiro Inexistente (já resenhado aqui) e O Visconde Partido ao Meio (quem sabe um dia). Fala sério, vocês aí que não curtem unanimidades, não é por nada não, mas esse aqui é o novo Pequeno Príncipe, e eu sonho com os dias em que as belíssimas candidatas a miss universo citarão essa obra ao invés da outra, do Saint-Exupéry.

Pra quem não sabe, vou contar um pouco da historinha. Mas depois, vergonha na cara e dinheiro na mão, vá gastar um pouco do dinheiro que você despenderia com goró e compre um novo clássico. Bom, o barão nas árvores a que o título se refere é o protagonista do livro. E você achando que era uma referência abstrata a algo que não existe, do tipo “A Bruxa de Blair 2 – O Livro das Sombras”, no qual você descobre todo desapontado após duas horas, que não tem bruxa nem livro nenhum no filme. Trata-se do barão Cosme Chuvasco de Rondó, que, em um belo dia, resolve dar um piti infectado na mesa do jantar e renegar a grana do papai, o barão de Rondó. Daí, resolve subir numa árvore e passar o resto de sua vida empoleirado, acho que para não botar os pés nas terras do pai e nas terras de mais ninguém, mas vai saber. E resolve viver uma vida contributiva, inventando coisas que melhorem o seu conforto nas copas, coletando e compilando conhecimento e filosofia. Arruma até mesmo uma esposa e um cachorrinho, que se chama Ótimo Máximo e que, dentro da minha concepção, é um nome bem aceitável para um canídeo.

Acho que o Calvino quis mostrar com esse livro é como a vida pode ser vivida do jeito que se desejar, e que, independente da vida que levamos hoje e do ambiente em que nascemos, é sempre possível dar um salto para a originalidade e para a auto-realização, mesmo que isso signifique ser confundido com um muriqui de vez em quando. A história é narrada a partir do caçula do barão, que tem um olhar muito apaixonado e, ao mesmo tempo, distante e amargurado por não poder estar próximo do irmãozão. Isso aí foi a maior malandragem do autor, porque aí é facinho se emocionar junto com a narrativa.

O Barão nas Árvores mescla direitinho as duas facetas do autor: a fantástica, fantasiosa e emocionante, que é muito legal, e a realista, que é chatona (sério, não gosto dos livros da primeira fase dele). E, curiosamente, o lado fantástico arrastou suas razões para o livro. São totalmente imaginativas, porém plausíveis, as maneiras que ele inventa para fazer com que seu protagonista viva em cima das árvores. Engenhoso sim, mirabolante não. Pensem nisso.

De todos os livros da coleção do Italo Calvino lançado pela Companhia das Letras, esse é um dos mais bonitos, na minha humilde opinião. Embora seja “azul incomodante número 3”, tom do qual a Carlinha não gosta, mas ficou muito bonito, mais do que o “azul incomodante número 5” do Assunto Encerrado, coletânea de ensaios dele lançada ano passado. No resto, é igualzinho a todos os outros livros da coleção, com tradução do Nilson Moulin. Aliás, fiz uma constatação: já li todos (ou quase todos) os livros do Calvino traduzidos pelo Moulin. Todos os outros que eu ainda não li estão traduzidos por outras pessoas. Uma dessas coincidências.

Ah sim: O Cordel do Fogo Encantado fez uma música em homenagem a esse livro, prova que ele vai é o novo Pequeno Príncipe, falei?

Comentário final: 256 páginas em papel pólen. Perfeito pra derrubar muriqui dos galhos da sua amendoeira. (brincadeira, hein, Ibama?)

 

Leonardo Sciascia – O dia da coruja (Il giorno della civetta)

Il giorno della civettaChega de feriado, né, pessoal? Todo mundo deu aquela enforcadinha na segunda? Fico apreensivo com esses feriados, neguinho faz muita barbeiragem na estrada e acabam matando quem não deve. O feriado de Finados é o feriado menos legal que tem no ano, porque é em homenagem a gente morta. E como aqui a gente não faz nada parecido com El Dia de Los Muertos, é algo meio triste e bucólico. Se bem que, se dependesse de uns moderninhos que tem aí, estaríamos abarrotados de caveirinhas da festa comemorativa mexicana. Sério, de onde saiu essa adoração pelo México? De repente é tequila, nachos, guacamole, Dia de Los Muertos, cactos pintados nas paredes dos butecos, Nossa Senhora de Guadalupe ganhando um zilhão de devotos, zapatistas pleibas, Deus na Céu e Chespirito na Terra, gente dizendo “cabrón” como se fosse muito cool… Gente, na moral, mas de subdesenvolvimento, gente feia, comida apimentada que gera peido fedorento e cultura brega, já basta o Brasil. E os mexicanos que me desculpem. Tenho que pedir desculpa adiantado agora porque apareceu uma albanesa no post do Ismail Kadaré reclamando que eu era preconceituoso com o país dela. Por isso, um recado para a cultura das nações de uma maneira geral: gente, muito cuidado com os estereótipos que vocês exportam. Depois não adianta a Rio-Tur processar os Simpsons, no Brasil tem taxista sequestrador e apresentadora infantil peitura MESMO. Enfim, vamos ao que interessa.

 

Olha só, analisando a minha tabelinha de acessos, percebi que o Leonardo Sciascia é um dos posts menos procurados, e olha que resenhei A Cada um o Seu quando este blog estava começando e os posts eram diários (era uma loucura). Então pensei que talvez o livro não tivesse o apelo necessário para fazer o Sciascia ser mais lido porque, acreditem-me, o cara é muito bom! Sendo assim, vamos falar de outro livro dele, que toca um tema muito mais interessante vindo dos italianos: a máfia!

O dia da coruja foi publicado originalmente em 1960 e parte de um acontecimento real, que é o assassinato, em 1947, de um sindicalista chamado Accursio Miraglia, que, como todo bom sindicalista que se preze, era um comuna, mais vermelho que cabeça de fósforo Fiat Lux. Como a parada foi a mando da máfia, então ficou por isso mesmo porque é tutto Cosa Nostra (hã? hã?). Sciascia começa o romance então com um rapazote assassinado no bonde, na Sicília. Para investigar, vem lá do continente um Protógenese Queiroz da vida. O capitão Bellodi, parmesão (de Parma) convicto e apaixonado pelo próprio país, começa a incomodar todo mundo na cidadezinha do assassinato, e constata a coisa mais cruel sobre a máfia: sua invisilidade. Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém sabe de quem é o bagulho que acharam no banco de trás da bumba. (fala sério, “bumba” é uma gíria pra ônibus que existiu por duas semanas, tempo em que o Virgulóides fez sucesso).

A tensão que o livro cria pode ser de livro policial, mas não tem muito mistério. A parada rola mais nos interrogatórios e nos baculejos que o capitão Bellodi dá nos vagabundos. Máfia não é brincadeira, afinal, e não ficam lá botando as caras para se permitirem perseguições de coche e troca de tiros na avenida. A história é muito bem escrita e, principalmente, muito bem narrada, e dá mesmo a convicção de que Leonardo Sciascia é um dos melhores escritores italianos do século XX. E chega, né? Resenha curtinha porque ninguém tá com saco de ler nada depois do feriado! E se quiserem mais informações sobre o livro, acho que a minha OUTRA resenha, mais séria, que fiz pra Revista Paradoxo, ajuda. Para ler, clique aqui.

Essa edição da Alfaguara deu um pequeno upgrade com relação ao outro livro do autor lançado pela editora: a capa passou a ser fosca (a outra era brilhante) e o papel ganhou uma gramatura um pouquinho maior. No resto é o mesmo projeto. A foto em preto e branco da capa (que se eu não me engano foi pega do CORBIS, mas não sei, não estou com o livro à mão aqui) é muito mais tchananã do que aquela outra foto, vamos combinar. O livro tem ainda uma cartinha do Sciascia pra galeraê, então vale a pena, ok? Ah, a tradução desse livro não é do MESTRE Nilson Moulin, mas da Eliana Aguiar, que traduziu nada mais nada menos do que Umberto Eco para o português.

Comentário final: 136 páginas em pólen soft. Pof pof pof!