Vídeo: Retratos da Leitura no Brasil – Algumas considerações

A pesquisa mais importante sobre a leitura do brasileiro saiu em sua edição de 2016 e agora já temos cinco outras pesquisas para comparar os resultados. Fiz esse vídeo meio no calor do momento, com algumas reflexões (algumas meio irrefletidas, mas vá lá) sobre o que alguns desses números representam e o que ainda precisa ser feito. Espero não ter sido raso nem leviano demais, e espero que gostem do vídeo.

Clica na imagem!

retratos da leitura no brasil

Hábitos de Leitura 5 – Autógrafos

O autógrafo, uma assinaturinha mixuruca carregada de prepotência para quem dá e de valor sentimental para quem recebe, ou não? Os autógrafos, na área de literatura, pelo menos, não são apenas uma conquista isolada para o leitor, mas o sustentáculo de uma indústria que prosperou nos últimos oito ou dez anos.

Isso porque acabou a timidez pra pedir autógrafo. Para um ator, um músico ou, sei lá, um artista plástico (será que alguém pede autógrafo para artista plástico?), o autógrafo é um incômodo, um gesto a que a celebridade em questão precisa dedicar um tempo com que contava para fazer outras coisas. Dando um exemplo prático: no ano passado, estava eu e um amigo no supermercado quando entramos no mesmo corredor de refrigerantes em que estava o Anderson Silva. A gente não é muito afoito com essas paradas de gente famosa, então só achamos o fato inusitado e continuamos nossas compras. Mas eis que chega um sujeito esbaforido e fala: “poxa, Spider, posso tirar uma foto com você?”. E ele, acompanhado de um rapazinho de cabelo black power, respondeu com uma voz muito fininha: “cara, me desculpa, estou fazendo compras com meu filho. Dá licença, tá?”. Eu não consigo imaginar o inferno que deva ser o cotidiano do Anderson Silva. O maior lutador de UFC do mundo não consegue mais sair na rua sem ser assediado por esse tipo de coisa. Tô quase começando a fazer um protesto no facebook chamado “Deixem o Anderson Silva em paz”.

Mas no caso da literatura tudo é diferente. O escritor se encontra à disposição exatamente para isso, e se apropria de uma prática milenar — a da dedicatória — para rabiscar seus livros carinhosamente para outras pessoas. E o papel já está ali, olha só! Tudo é facilitado no autógrafo literário, de maneira que as pessoas começaram a colecionar as letras de punho do escritor como quem antes tinha um caderninho para essa finalidade.

Então, como o Livrada! é esse grupo legal de troca de experiências literárias, resolvi pedir para os leitores que me mandassem seus autógrafos favoritos, e, resumindo a história, vou colocá-los aqui:

sobota

O Sobota, que ganhou nossa promoção do Bolão do Nobel, mandou esse autógrafo do Walter Hugo Mãe, que pegou na Flip. Não tô aqui pra ficar decifrando garrancho de escritor metido a médico, mas acho que diz algo como “ao Guilherme, como a abrigo, q me vina de devolver o Janiso”, ou Caniço, ou Janeiro, ou Sorriso, sei lá. Enfim, pra ele vale. Ele mandou também um autógrafo do Joca Reiners Terron, do livro Curva de Rio Sujo. Esse Sobota, um caçador de autógrafos destemido!

Sobota

Já o nosso leitor Raphael Pousa, também ganhador de nossa primeira promoção do blog, mandou sua remessa também. Esse aqui, por exemplo é da Inês Pedrosa:

“Para Raphael (que tem nome de anjo)” Sei não, isso na minha terra é xaveco, hein?

O Pousa também foi lá bater um papo com o Hugo Mãe. Diz lá “Ao Raphael Pousa, com o afrijo anjo leste origami (?) de Prowing…” quer saber, mano? Desisto de tentar ler autógrafo desse senhor, que chateação, sô!

A Sónia, nossa leitora lá de Portugal, adivinha? Também mandou autógrafo do Valter Hugo Mãe! Gente, nem se a gente tivesse combinado ia dar tão certo, hein? Já disse, não vou tentar adivinhar o que diz o garrancho. Como se não bastasse um, a Sónia mandou DOIS livros autografados pelo Mãe. Mas é uma mãezona esse Mãe, autografando o livro de geral, hein?

Agora, a nossa leitora Amanda, que é fãzona do Marcelo Rubens Paiva, mandou um autógrafo e uma foto que tirou com o tio. Diz a moça que queria se casar com ele e o pediu em casamento em plena Feira do Livro de Ribeirão Preto em 2008, e ele negou. Tá muito gostosão esse Marcelo Rubens Paiva mesmo, esnobando as novinhas…

Não quer cassar, mas manda beijo, né?

Nossa leitora Lívia Stumpf tirou uma onda com esse autógrafo do Eduardo Galeano que ela conseguiu em Porto Alegre, pelos idos de 2007 ou 2008. Conta ela: “Sou apaixonada por ele e quando fiquei sabendo que ele viria para uma das edições do “Conversas com o Professor” em Porto Alegre (acho que foi 2007 ou 2008), não tive dúvidas e fui mofar na fila! Não só vi esse uruguaio lindo falando e contando suas histórias envolventes, como também encarei mais uma fila pra garantir seu autógrafo! Foi na época do lançamento do livro Espelhos e seria esse que ele iria autografar. Tinha o Espelhos na minha bolsa, mas secretamente trazia o Veias Abertas da América Latina, planejando o grande golpe! Para o Galeano não cansar muito e conseguir atender todo mundo, ele só assinaria um livro, que no caso seria o Espelhos. Ignorei totalmente essa recomendação e, quando chegou minha vez, saquei minha edição de 1978 do Veias Abertas sem nenhum pudor! Ele me olhou um pouco surpreso, mas logo em seguida abriu um largo sorriso e autografou com uma risada.”

Por último, a senhora Eloísa Helena (não confundir com AQUELA Eloísa Helena), tirou uma onda forte também com uma assinatura do Luiz Carlos Prestes (!!)  no livro O Cavaleiro da Esperança, do Jorge Amado, sobre o cabra. Contou ela por e-mail:

“Ele fez uma palestra numa Faculdade de São Gonçalo: UERJ. Ele  me pareceu uma pessoa que não gostava de ser fazer de vítima. Disse que o que fizeram com ele, os comunistas tb fariam com um prisioneiro opositor ao regime. Estava apoiando os candidatos do PDT, creio que por ser o que de melhor via para o Brasil no momento Foi uma noite que jamais esquecerei.Ele era uma figura fisicamente frágil, o peso dos anos se fazia sentir, mas seu olhar era forte! sua palavras eram seguras.

 Lembro-me que na época eu me filiara ao PDT. Brizola havia feito muito pelos professores. E agora iríamos  eleger um candidato à prefeitura do mesmo partido: Ezequiel. Mas , ele  foi uma  decepção ,segundo alguns.
No fim da noite, fui até a mesa e todo orgulhosa , pedi-lhe o autógrafo, depois de apertar, emocionada, sua mão e dizer-lhe o quanto me orgulhava dele, de sua luta. O livro fala da vida dePrestes, da Coluna Prestes e foi escrito por Jorge Amado. Ele era uma figura fisicamente frágil, o peso dos  anos  se fazia sentir, mas seu olhar era forte!”

E agora seguem alguns meus. Não, não vou colocar meu autógrafo da máquina de fazer espanhóis, chega de VHM. Mas seguem aqui alguns simpáticos:

alberto manguel

O Alberto Manguel me dedicou o livro O Amante Detalhista chamando-me de o Jornalista Detalhista, após uma entrevista em Passo Fundo, no ano passado. Simpaticão.

O Mutarelli, outro queridão nosso, fez esse desenho depois que mediei o lançamento do livro Quando Meu Pai se Encontrou com o ET Fazia um Dia Quente, na Itiban Comic Shop.

Meu scanner sacanner não pegou muito bem esse autógrafo do Cristóvão Tezza, da época em que ele era meu professor de redação, mas gosto dele por razões.

O último autógrafo que peguei foi esse do Mia Couto, quando entrevistei ele no começo desse mês. Foi legal.

Fora isso, sugiro que vocês leiam minhas peripécias para pegar um autógrafo do Jô Soares aqui.

É isso, galera, espero que tenham gostado!

Hábitos de Leitura 4 – Catalogação

Feliz 2012, povão! Bem sei que nem todo mundo teve a oportunidade de passar o revéillon num ambiente tão distinto quanto a casa de Patrícia Abravanel, que teve além da minha presença, convidados ilustres como Boris Casoy, Walter Mercado, Bárbara Paz e Sander do Twister, para citar alguns, mas mesmo assim espero que todos tenham entrado neste ano com a vitalidade necessária para fazer dele um ano strondástico. De minha parte, a resolução de ano novo consiste em retomar minha carreira de fisioculturista, que deixei em segundo plano quando comecei a trabalhar como jornalista e leitor inveterado.

E tenho novidades para vocês! A primeira é que recebi o contato do pessoal simpático das editoras Dublinense e Não Editora, que se dispôs a mandar material literário para abastecer esse blog com o bom suco da literatura gauchesca (diria nacional, mas se eu falar que o RS faz parte do Brasil os gaudérios se estranham comigo). A segunda é que recebi o contato igualmente simpático da Sharon, do Quitandinha, que fez uma postagem sobre o Livrada! na sessão Blog de Quinta, que sai às quintas-feiras no site. Leiam lá!

E vamos ao texto de hoje, pelo qual espero muito não ser julgado, embora creia que seja tarde para isso. É a catalogação das leituras, algo muito nerd de se fazer e cuja utilidade descobriremos num futuro incerto, que pode ser remoto ou não.

Comecei a ler de maneira mais compulsiva quando me mudei pra Curitiba. Morava em um quarto sem televisão, sem internet, com nada além de meu violão e meu computador com GTA Vice City instalado. Sem conhecer ninguém na cidade, descobri ali perto da minha casa uma livraria e comecei a pedir dinheiro para livros. Fui lendo os que eu comprava e os que a minha mãe mandava pelo correio (geralmente Bukowski). Ela, que é leitora inveterada, recomendou que eu fosse anotando os livros que lesse, porque iria chegar um dia em que eu não me lembraria de todos — o que, particularmente, é um pesadelo: abrir um livro e lá pela página 50, falar: “eu acho que já li isso…”. Então comecei com uma listinha. E tenho ela aqui até hoje! Ei-la:

1- Trainspotting – Irwing Welsh
2- Cabeça de Porco – Vários
3- O Gosto da Guerra – José Hamilton Ribeiro
4- O Silêncio da Chuva – Luis Alfredo Garcia Roza
5- Achados e Perdidos – Luis Alfredo Garcia Roza
6- Vento Sudoeste – Luis Alfredo Garcia Roza
7- Uma Janela para Copacabana – Luis Alfredo Garcia Roza
8- Perseguido – Luis Alfredo Garcia Roza
9- O Apanhador no Campo de Centeio – JD Salinger
10- Cão come Cão – Edward Bunker
11- Nem os Mais Ferozes – Edward Bunker
12- Educação de um Bandido – Edward Bunker
13- Espere a Primavera, Bandini – John Fante
14- A Estrada para Los Angeles – John Fante
15- Pergunte ao Pó – John Fante
16- Sonhos de Bunker Hill – John Fante
17- Cem Anos de Solidão – Gabriel García Marquez
18- Memórias de Minhas Putas Tristes – Gabriel García Marquez
19- Doze – Nick McDonnel
20- Homem que é Homem Não Dança – Norman Mailer
21- A Insustentável Leveza do Ser – Milan Kundera
22- Batidão – Silvio Essinger
23- Feliz Ano Velho – Marcelo Rubens Paiva
24- Bala na Agulha – Marcelo Rubens Paiva
25- De Profundis – Oscar Wilde
26- O Retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde
27- Muitas Vozes – Ferreira Gullar
28- A Revolução dos Bichos – George Orwell
29- Leão de Chácara – João Antonio
30- Minutos de Estupidez
31- Filosofia para Principiantes
32- Filosofia de Banheiro

Muita coisa inútil e uma certa vontade por devorar obras completas, alright. Conforme fui ficando mais interessado na coisa, aprimorei meus métodos e comecei a dar cotações para os livros e, em 2009, descobri o Skoob, um lugar para controlar a leitura melhor do que ninguém, embora ele tenha também sua função de orkut de bibliófilos.

Mas nada é tão trivial que não se possa complicar com nuances e metodismos. Comecei a fichar minhas leituras então num caderninho especialmente para tal chamado Moleskine Book Journal. A página pré-diagramada te dá espaço para colocar citações, opinião, além da ficha técnica básica do livro. Cheguei a isso:

Essa é, arrisco dizer, a maior manifestação a que meu lado virginiano já se dignou. Obviamente não fiquei só nisso e comecei umas viadagens desse tipo:

É miguxice? É. Mas penso sempre que antes ter um livrinho de fichamentos meio afrescalhado do que ser um desses tiozões que fazem coleção de latinha de cerveja.

Agora, lhes digo: o fichamento ajudou-me em vários sentidos a controlar minhas leituras anuais, minhas opiniões sobre autores (o Amyr Klink, a quem dei cotação máxima no caderninho, perdeu todo o respeito que eu tinha por ele depois de ser maltratado por balela numa entrevista, em 2010), para guardar as citações que eu achava interessante sem riscar meus livros e para saber a época precisa em que os li. De maneira que hoje, quando termino um livro, anoto-o na lista, adiciono ao skoob e faço o fichamento no book journal. É um empenho, mas tenho empenhos maiores na minha vida, e esse blog que beira dois anos é um deles.

E agora jogo a bola para vocês, caríssimos. Fazem alguma coisa nesse sentido ou é apenas viagem da minha cabeça? Vamos, eu não posso ser o único anormal desse recinto!

Hábitos de leitura 3 – Cintas e adesivos promocionais

Negócio é o seguinte: tentei fazer uma enquete pra colocar nesse blog, mas não rolou porque sou muito ogro pra entender de computador e enquetes eletrônicas. Então resolvi transformar a enquete em um post. Vamos a ele.

Cintas de livro, moçada. O que fazer com elas? Essa questão atormenta a humanidade desde que os publicitários acharam por bem estender seus suportes de anúncio além do rádio, jornal, revista e outdoor (ó, citei um trecho do Racionais MC’s, esse blog é muito versátil). Eventualmente eles descobriram que a forma mais eficaz de propaganda é aquela colocada nos peitos da Larissa Riquelme, mas, como a literatura ainda é um mercado financeiramente muito baixo calibre, não vai ser tão cedo que será visto, durante um jogo de futebol, o resultado do prêmio Jabuti quicando ao lado de um celular vagabundo. Felizmente, existem maneiras mais econômicas de se vender um livro. E as cintas são, nesse ponto, eficazes.

Ao mesmo tempo, é com a cinta que a gente percebe em que pé anda nosso país em termos de público literário. Vi outro dia na livraria a edição das Viagens de Gulliver, do Jonathan Swift, lançado pelo selo Penguin Companhia das Letras, com a tenebrosa cinta: “O livro que deu origem ao filme”. Putz, que vergonha. Tudo bem colocar uma cinta dessas em um livro não muito clássico, como o Reparação, do Ian McEwan, que deu origem ao filme Desejo e Reparação. Afinal, ninguém precisa saber quem é Ian McEwan. Agora, Viagens de Gulliver é um clássico da literatura, pô! Imagine a seguinte situação e imagine também se você ia gostar: Um belo dia você resolve ir na livraria se enturmar mais com os clássicos, e resolve comprar um belo exemplar de Romeu e Julieta, do Shakespeare. Aí você encontra uma cinta verde limão com a frase “O livro que deu origem ao filme”, entre as caras de pato do Leonardo di Caprio e a Claire Danes, empunhando pistolas semi-automáticas. É ou não é pra acordar no meio da noite, gritando, sentado, empapado em suor? Tudo bem que os caras lá da editora precisam vender o livro, e o selo é relativamente novo mas, amigo, se você não sabe que As Viagens de Gulliver é um livro, e não um roteiro inventado em pleno 2010 pro Jack Black fazer suas palhaçadas, shame on you! Os pais da gente compram livrinhos de clássicos adaptados pro público infantil quando a gente é criança, e se seu pai só te deu DVD dos Backyardingans, o problema é seu e do monstro negligente que te pariu, e vocês vão resolver isso algum dia no futuro, na frente de um psicólogo freudiano, que vai olhar vocês dois, franzir as sombrancelhas, falar “hummm…” e cobrar 300 reais a hora. Então pais, por favor, bora dar educação pra esses rebentos que já estão crescendo rodeados por brinquedos pra lá de tentadores (como aqueles NERF, meu Deus, como eu queria ser criança e ter uns desses). Não adianta deixar seu filho crescer igual mongolóide e colocar um adesivo no carro de “eu tenho vergonha dos políticos em Brasília” como se a parada não fosse contigo.

Divaguei, desabafei, voltemos à questão central. Dizia que as cintas podem ser muito vergonhosas, e nesse caso é melhor jogar fora. O problema é quando nem dá pra tirar. A editora Lua de Papel, por exemplo, editou O Morro dos Ventos Uivantes, da Emily Brontë, uma das irmãs superpoderosas Brontë, e colocou um adesivo falso — que é, na verdade, impresso na capa — com o seguinte chamado: “O livro preferido de Bella e Edward da série Crepúsculo”. Caramba, que chute nos bagos! Imagine você, meu amigo, minha amiga, que quer saber de que livro vem aquela música irritante da Kate Bush gravada pelo Angra no abominável disco Angels Cry, e chega na livraria pra comprar esse livro, tenta arrancar o adesivo pra não apanhar na escola e vê que é em vão. Essa edição tá marcada pra sempre, e todo mundo vai saber que você é um fã de vampiro que brilha, caso contrário, por que esperou 164 anos pra ler esse livro? Então corre, Bino, porque é cilada.

Agora, a cinta também pode ser bem usada. O livro Política, do Adam Thirlwell, lançado pela Companhia das Letras, contem uma cinta com uma crítica elogiosa do The Guardian e do Le Monde, e um chamado em letras garrafais: “Uma comédia sobre a etiqueta sexual”. Traduzindo: “Esse livro chama-se Política, mas é de sacanagem, então pode ler porque é legal”. Ótimo! Eu, você e a torcida do Flamengo nunca ouvimos falar em Adam Thirlwell. Vai que o cara escreve mesmo sobre política? Mas, graças à poderosa cinta, você está a salvo de ler um livro xarope e livre para ler um livro de mulé pelada.

Estou quase acabando. Por penúltimo, existem os adesivos colados nos livros que indica seu potencial best-seller. Alguns são possíveis de serem arrancados e outros, mais uma vez, são impressos juntos com a capa. É o caso de A Possibilidade de uma Ilha, do Michel Houellebecq, cuja capa diz que a obra em questão vendeu mais de 300 mil cópias na França. Considerando que a França é um país pequeno que deve ter uns, hã, 500 mil habitantes mais ou menos, 300 mil exemplares é pra estourar a champanha (se bem que nada faz o Houellebecq feliz, não adianta). E, como todo bom apreciador de arte sabe e parafraseia o senador Juraci Magalhães, o que é bom para a França é bom para o Brasil (isso valeu 2 anos intermináveis da minha infância escutando Jordy, mas tudo bem). Então, sei lá, pode ser que ajude se você for do tipo maria-vai-com-as-outras, se amarra no Diogo Mainardi e curte repetir umas verdades de almanaque, do tipo “sabia que a maioria das pessoas num incêndio morrem sufocadas pela fumaça ao invés de queimadas?”. Existem públicos e públicos.

Por último, existem as cintas que anunciam os prêmios que o livro ganhou. Também funciona se você é um desses que acha que premiação não é uma parada política e baba-ovo, e acredita que a quantidade de prêmios que o livro leva é diretamente proporcional a sua qualidade. Eu confesso que acredito ainda em alguns prêmios, mas o Jabuti e o Nobel não são eles. Essas cintas de prêmio são facilmente descartadas, porque, uma vez que você já sabe que o livro ganhou tal prêmio, pode jogar ela fora. É o caso do livro Ironweed, do William Kennedy, já resenhado aqui inclusive. Veio com uma tarja azul com um único dizer “Vencedor do prêmio Pulitzer”. Ótimo, ganhou o Pulitzer, levei pra casa, li, gostei, e a cinta tá no lixo. Vê-se que a Cosac não se preocupou em fazer algo muito estiloso, com papel bacana e etc. É efêmero e é isso aí.

E você, caro leitor, o que faz com as cintas de seus livros? Joga fora se estiver muito detonada? Guarda com carinho porque curte umas listras? Usa pra remendar o papel de parede que descolou? Dobra e faz um recorte daquelas menininhas de mãos dadas? Forra a gaiola do canário? Diz aí, aqui você é livre. Passando da moderação de comentários, pode tudo!

Hábitos de leitura 2 – Organizando sua estante

O quê?? O post de hoje não saiu às 9 horas? Que absurdo, Yuri! Quanta irresponsabilidade! Pois é, gente, ia escrever ontem à noite, mas veja só como esse blog está profético: Quando falei do Rota 66, estourou aquele corre-corre no Rio. Depois, fui falar do Mez da Grippe e chumbei de gripe mesmo, uma das mais violentas que já tive. Por isso fiquei de molho, e ao invés de escrever ontem, perdi a hora vendo o filme Gelo Negro. Êta filminho tenso da gota serena! Mas não estamos aqui pra falar de filmes, não é?

Ah, vocês, perguntariam, e como foi o show da Sua bunda? Ô galera, foi bunito demais, sô. A pancadaria comeu solta e a galera se divertiu. Pra quem tiver interesse, disponibilizei três vídeos no Youtube: Um de uma música nossa chamada Café na Sua bunda, uma composição trilíngue (português, inglês e francês, mané, tá pensando o quê?); Outra composição nossa chamada Laktostasi (que originalmente se chamou Laktonazi, mas a Stasi faz muito mais sentido na música), que foi escrita em alemão e tem uma pegada meio rammstein enquanto dialogamos sobre a intolerância à lactose, um mal que acomete muitas pessoas;  e finalmente, um cover do Dead Kennedys, Police Truck! A quem tiver interesse taí. Mas não estamos aqui pra falar de música também, não é?

Viemos aqui para falar dos hábitos de leitura, uma seção nova no blog e que hoje, serve como encerramento das atividades do Livrada! neste ano de 2010, e justo hoje que o blog completa oito meses! Foram mais de 80 livros resenhados, acessos que não param de subir e muitos novos amigos feitos. Mas por enquanto, vamos dar um tempo. Afinal de contas, fim de ano chegando ninguém tá com saco de ler resenha de livro ou coisa que o valha. Neguinho quer ficar só na maciota, dar uns abraços na vó, se decepcionar com amigo secreto, dar pulinho ridículo em onda no ano novo, encher o bucho de sidra e tender, ver o Show da Virada na Globo. Por isso, voltaremos em 2011, logo no comecinho, alright?

Pois bem, galera, estantes. As estantes de livros não são indispensáveis nas casas dos leitores, já que tem uns ratos de biblioteca por aí que não sustentam o falido mercado de livros no Brasil. De qualquer jeito, a maioria tem lá sua dúzia de livros espremidos entre dvds, gibis, etc. Digo pra vocês, gente: é importante ter a sua estante de livros em um lugar visível e bem frequentado da casa, por uma única razão: a gente precisa fazer os livros serem legais de novo. Quando eu digo legal, quero dizer cool, descolado, transado, choque, brasa mora, entendeu? Sério gente, se vocês arrumarem uma paquera no bar à noite e ele(a) leva você pra casa dele(a), repare se há estantes de livros. Se não tiver, simplesmente NÃO transe com ele(a)! Vamos estabelecer a ditadura dos livros nesse país, é ou não é?

Enfim, aqui em casa as estantes ficam na sala, e tirei uma foto (que depois descobri que ficaram todas meio borradas, mas tô muito debilitado para tirar novas fotos… cof cof… tadinho de mim) pra vocês verem como é:

Atualmente tenho 6 prateleiras então, e uma pintura original, minha primeira obra de arte nessa casa, presente do André Dahmer, pai dos Malvados. Vamos ver se colocamos em detalhe, assim é possível sacar um pouco da arrumação que eu faço:

Essa é a estante do meio. Aqui guardo minha pequena coleção do Nelson Rodrigues, alguns livros do Saramago, alguns vários do Cristóvão Tezza, a coleção policial completa do Luiz Alfredo Garcia-Roza, a coleção completa de livros publicados no Brasil do Mia Couto, O tempo e o Vento inteirinho e mais o Olhai os Lirios do Campo (que é da Carlinha. Tem um monte de livro dela nas estantes, ok?), uma boa dúzia de livros do Italo Calvino, um Marquês de Sade ixperto pra galera e dois Faulkner.

Aqui na estante inferior direita, guardo a trilogia da Crucificação Rosada, do Henry Miller, todos os Kafkas que consegui encontrar nessas edições (me falta O processo, se alguém aí tiver, eu compro), todos os Michel Houellebecq, alguns Philip Roth, quase todos os Coetzee publicados (me faltam a Vida dos Animais, o Mestre de Peterburgo e o Diário de um ano ruim) E o Viva o Povo Brasileiro, do João Ubaldo.

A estante superior direita tem bons títulos também: Stanislaw Ponte Preta, Leonardos Sciascias, Vargas Llosas, Rosas Monteiros, Fernando Vallejos, Kunderas, Pedros Juans, Rubens Fonsecas, Kadarés, Valêncios Xavieres, Stieg Larssons, Cacos Barcellos, entre outros.

A estante mais baixa do lado esquerdo tem muitos livros que eu ainda não li, entre eles a Mulher do Próximo, Gomorra, Freud, Conversa na Catedral do Vargas Llosa, V.S. Naipaul, Operação Massacre, Política e uma edição de My life as a Man do Philip Roth em inglês, presente do camarada Irinêo. Todos na fila. Que agonia!

Mais livros na estante menos baixa do lado esquerdo. Dois títulos do ciclo de Albany, do William Kennedy, Godot, Vermelho e o Negro, uns Miguel Sousa Tavares, Kawabatas, Paul Auster, Sándor Márai, Borges, mulheres modernistas, Elogiemos os Homens Ilustres, DOIStoiévski (trocadilho do século, hein?) Cervantes, Isaac Asimov e Tolstoi.

Por último, na estante superior do lado esquerdo, alguns livros que deixei um pouco para trás misturados a outros, dos quais ainda gosto. John Fante, Irving Welsh, Ed Bunker, García Márquez, Palahniuks, e uns livros de jornalismo, afinal de contas, passei por uma faculdade, né?

E essas são as minhas estantes, galera. Dá pra ver que não há um critério de arrumação melhor definido do que pelo tamanho. Gosto dos livros grandes nas bordas da estante, e só. Mas vejamos aqui o que os nossos leitores usam como critério para organizar seus alfarrábios!

O Fausto, nosso leitor de além-mar, tem uma estante clássica, dessas de chão, onde empilha livros tanto na horizontal quanto na vertical. Ele não soube precisar se há alguma ordem ou não, pois sua esposa é quem organiza, e disse que quebra o pescoço quando precisa procurar um título. No entanto, fez questão de me mandar a estante de livros das filhas dele, essa sim, um exemplo de organização. Check it out:

Fala sério hein, se você tivesse metade da organização dessa estante na sua vida você não estaria atolado de problemas. Os fichários são documentos da mãe das meninas e esposa do Fausto, que é professora primária.

A Lálika, do blog Elo Amarelo, tem prateleiras de parede com cavaletes de suporte, e escreveu “Come as You Are…” numa parede totalmente pink. Entre seus livros tem porta-retratos, porta-lápis e várias caixinhas que eu imagino que sejam para guardar joias. Entre seus títulos, é possível ver uma pequena coleção do Fernando Morais, uma mega coleção do Harry Potter, alguns livros do professor Dawkins, Zuenir Ventura, Mafalda e Rolling Stones. Ela disse que o quarto dela foi reformado e isso tudo aí já mudou, e que uma das estantes caiu.

O Bruno, do blog Pizza Frita, é o nosso leitor mais nerd. Tem uma prateleira só de livros de RPG, Harry Potter, Tolkien, caixinhas, pôster do Evanescence e vários bonequinhos do Star Wars. Isso porque vocês não viram a coleção de mangá do rapazote, que chega até o teto e volta umas três vezes. Mas o rapaz também lê livros técnicos, veja só.

Vish, que preguiça que dá só de olhar pra esses livros. O Bruno está se especializando em desenvolvimento de jogos, rapaziada (me corrija se eu estiver errado), então tudo bem que tem um Tormenta e um AD&D ali no meio, né?

Por último, a nossa leitora Karen, do site Saturnália, diz que não tem uma estante, então os livros ficam espalhados todos pelo chão mesmo, no que ela chama no e-mail de “Galeria anarquista”. Na foto, entre dicionários e sapatinhos, está o livro Christine, do Stephen King, seu livro favorito.

Aqui, em mais uma foto (ela me mandou várias, então tive que escolher) vemos mais um pouco do caos de sua (des)organização. Em destaque, o livro O amante, da Marguerite Duras, parte da coleção das mulheres modernistas, o Exorcista (que medo!) e mais uma porrada de livros encostados. Punk’s not dead!

Então é isso, minha gente. Agradeço a todo mundo que acompanhou o blog até aqui e vai continuar acompanhando no ano que vem! Acho que fizemos algo meio inédito no campo cheio de dedos da crítica literária e vamos aumentar ainda mais nosso alcance em 2011. Tenham todos um bom fim de ano e um próspero ano novo. Ah, fiquem de olho na seção de recados. Vou escrever ali a data da volta do blog!

Abraços a todos,

Yuri Alhanati

Vencedor da Promoção – A estante do Sr. Raphael Pousa

Salve, salve! Olha eu aqui abrindo mais um post com uma saudação ridícula digna de um VJ da MTV. Serião gente, depois de hoje, nada de falar “salve, salve”, ok? Bom, anteontem, dia 8, foi mais um aniversário do Livrada!, que completa sete meses, aê! O crescimento do site é satisfatório, tendo em vista que as visitas não param de crescer e que a literatura não é, por definição, muito procurada. Então temos que comemorar! Decidi esse mês homenagear o sr. Raphael Pousa, feliz e cagão vencedor da promoção Comentário número 500 do Livrada! Raphael comentou pela primeira vez no Livrada! e venceu a promoção. E, para provar que não sou nenhum charlatão, pedi a ele que, gentilmente, enviasse uma foto com o livro. Eis aí então: Promoção

“Sou um feliz vencedor!”

Como também estou pedindo aos srs que me mandem fotos de vossas estantes de livros, o sr. Pousa foi ainda mais gentil e enviou fotos de sua bela coleção de livros. Percebi que o vencedor da promoção é um leitor com gostos muito semelhantes aos meus, pois compartilhamos muitos títulos em comum. Colocarei links para os quais já houve resenhado. Senão vejamos:

Nessa foto, vemos alguns de seus livros. Destacam-se ali o Desonra, do JM Coetzee, na novíssima edição luxuosa; Suicídios Exemplares, do Vila-Matas; A Humilhação e Indignação, do Philip Roth; a Invenção de Morel, do Bioy Casares (esse não tenho); Bolaño, só os maiores; Na Natureza Selvagem, que virou filme (não tenho); alguns da Inês Pedrosa (também não tenho), algum sucesso de vendas do dr. Richard Dawkins (não); o quadrinho Cachalote que, francamente, não entendi muito, e o maravilhoso Chabadabadá, do macho-jurubeba Xico Sá.

Aqui temos alguma coisa do Chico Buarque; o livro que eu mandei, Plataforma; Esperando Godot, uma das únicas peças boas desse mundão de deus; um calhamaço do Saul Bellow, de quem resenhei Henderson o Rei da Chuva; Ironweed, do Willian Kennedy, Erec e Eneide, do Montalbán, que comprei num impulso num balaio de 9,90 e a nova edição de O Teatro de Sabbath, de Philip Roth.

Eis aqui algumas pequenas grandes coleções: Luis Fernando Verissimo e Saramago. Os títulos ali incluem uma edição antiga de Memorial do Convento, e os livros que partilhamos: Todos os Nomes, a Viagem do Elefante, as Pequenas Memórias, As Intermitências da Morte, Don Giovanni e O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Alright!

 

Gabriéis Garcias Marquezes diversos, incluindo o já resenhado Memória de Minhas Putas Tristes, alguns livros do Chico Buarque (mais Chico Buarque?). Uma edição antiga de Benjamin e a edição laranja de Leite Derramado, que venceu todos os premios populares desse ano (mas não vamos discutir isso, não quero mais inimigos além dos que eu já cultivo). Aí sim, temos o já famigerado Lobo Antunes, sobre o qual já declarei minha posição, sob vaias e protestos dos demais, e vários livros do Rubem Fonseca, uma bela coleção que contém uma luxuosa e desbotada edição de Diário de um Fescenino e o livro Agosto. Ah, não é por nada não, mas babo muito nessa compilação de contos, mas é ruim de achar quem queira se desfazer de uma dessas.

Mais coleções: As ilusões Armadas, do Elio Gaspari (incompleta), dois calhamaços dostoievskianos da editora 34 e a simpática coleção de clássicos da Folha. Tem que ler esses livros aí, hein?

Aqui a coisa começa a ficar confusa. Darcy Ribeiro, Lya Luft, Cony, Adam Thirlwell, Nietzsche, Luc Ferry, Paul Auster e uma edição da idade do Bronze de Grande Sertão Veredas, ao lado de uma pequena coleção de títulos do Fernando Morais. Pô, sujeito, que mistureba! Se decide aí!

 

Pra terminar, uma metade mística-filosófica da estante com A Viagem de Theo, vários de Jostein Gaarder, Paulo Coelho (cof cof) e uma não tão simpática coleção do Estadão. Da outra metade, a preciosidade O Rei de Havana, Marçal Aquino, Machado de Assis, Thomas Eloy Martinez (o livro sobre a Evita), Alan Pauls e um almanacão do professor Pasquale porque ninguém nasceu sabendo!

 

É isso, galera! Já sabem: mandem as fotos de suas estantes para bloglivrada@gmail.com, o tempo está se esgotando. Raphael, desculpe qualquer brincadeira aí, sua estante é nota 10 e você é um ótimo leitor e interlocutor desse blog.

Abraços a todos!

 

Hábitos de leitura 1 – Tratando bem do seu livro

E aí pessoas, tranqüilidade? Pois é, hoje vamos deixar as resenhas de lado um pouco para falar sobre algo muito importante: o seu corpo. Sabe, existem certas partes do seu corpo que são só suas, e um adulto não deveria tocá-las de um jeito que te deixe desconfortável. Bah, mentira, vamos dar início a uma série sobre hábitos de leitura.

Pra quem nunca desconfiou, aqui no Livrada! a gente trata do livro também pelo seu aspecto físico. Ler, para os leitores habituais, é uma ação permeada de nuances aí, e quem sabe tá ligado: cada um tem as suas. Por isso, se me dão licença, falaremos hoje sobre o jeito como você, eu e o teu primo esquisito (aquele cujo sonho quando era criança era cuidar dos velhinhos. Hummmm) tratamos dos nossos livros. Então, participem aí da discussão.

Eu sou um leitor que mantenho uma posição quase indiana com meus livros: praticamente não podem tocar no chão. E o principal motivo pelo qual trato a papelada com tanto zelo é simples: livro é caro pra chuchu. Suponho que ninguém seja milionário por aqui e que livro não é um simples Tazo, que vem junto do salgadinho de graça, pra você colecionar e perder no jogo de azar com os amigos. Não, camaradinha, é papo de quarenta reais pra cima.

Entretanto, entendo que nem todo mundo seja um colecionador de livros e não esteja tão preocupado assim com a estética da sua biblioteca. Quando a gente começa a falar dessas coisas, o que não falta é duas dúzias de neguinho falando “mas o que importa é o conteúdo, mé mé mé”. E de fato, depois da sexta série, o livro é o único objeto do mundo para o qual o termo ‘beleza interior’ ainda faz sentido. Ainda assim, a gente vive num mundo material cheio de garotas materiais, então sem falsa demagogia pra cima de moi, beleza? Dizia eu que existem essas pessoas, sem nenhum apego por seus alfarrábios, que não veem mal algum em marcar as páginas com a orelha, dobrá-lo durante a leitura como uma revista Caras, sublinhar partes interessantes (não é mais eficaz anotar em um caderninho, ou algo assim?) e, o pior, o supra-sumo do desapego: anotar números de telefone e outras notas nadavê na folha de rosto ou outro lugar. Claro que estou falando tudo aqui do meu ponto de vista e, para mim, rabiscar o livro só é aceitável quando é um autógrafo do autor ou uma dedicatória dos amigos que tem o bom gosto de te presentear com livros (exceto quando te dão de presente livros do tipo Amar é Prosa, Sexo é Poesia. Não vou citar nomes). Para pessoas assim, sem vaidades, o e-book vai fazer muito sentido, e vai ser, quem sabe, a primeira vez em que será preciso cuidar — e muito bem — do suporte. Afinal, Kindle não é exatamente algo que você ganhe na pescaria da festa junina da sua igreja (a menos que você seja de alguma religião de ricos, tipo o judaísmo ou aquela religião maluca dos Estados Unidos em que o sacerdote faz coleção de carrões, aí tudo bem). Por mais paradoxal que seja, só quem não liga muito para o aspecto físico do livro vai investir em algo tão dispendioso quanto um reader, acho eu.

Entretanto, cuidar bem de um livro envolve algumas práticas chatinhas, como moderar os empréstimos (um outro tópico, um outro dia, quem sabe?), transportá-los com certo cuidado e fazer uma limpeza eventual. Conheci gente que tinha o hábito de transportar os livros em pequenos sacos plásticos, desses que a tia do xerox coloca as folhas que você fotocopia, ou mesmo uma sacola de mercado, que evita formação de orelhas e outros amassados uma vez dentro da bolsa ou mochila. Tentei fazer isso por um tempo, mas não consegui me adaptar, então resolvo levar o livro na mão ou mesmo no bolso gigantesco das minhas calças de maloqueiro.

Para fazer a limpeza dos queridos, o lance é o seguinte: uma vez por mês tirá-los da estante e folhear rapidamente as páginas para arejá-las e passar um pano seco nas capas para tirar o pó. E se você, assim como eu, mora no Paranã, cuidado: aranhas marrons curtem uma literatura. Outro dia achei uma atrás da minha coleção do Kafka, terrível e asqueroso aracnídeo, não dá nem pra fazer a piadinha infame com a Metamorfose. Agora, se você tem uma biblioteca monstruosa, acho melhor fazer aos pouquinhos, né?

E você? Como cuida do seu livro?

Ah, e se você ficou muito chateado porque hoje não teve resenha, não tema, gafanhoto. Passa lá na Paradoxo para ler a resenha dessa semana, de um livro muito irado do Snoopy.