Desafio Livrada – Reta Final

E aí, meus bons. Como vocês estão?

Conforme perceberam, não teve novidade por aqui no último domingo, e me justifiquei na página do Livrada no Facebook, a qual eu espero que vocês já estejam “curtindo” (seja lá o que seja isso), alegando motivo de força maior. Bom, na verdade eu menti: estava no bem bom da zona sul do Rio de Janeiro, aproveitando a vida com gente rica e batendo papo com meus novos camaradas, Antonio Banderas e Salma Hayek. É, essa é minha vida, esse é meu clube, e se eu vivesse dentro de uma propaganda de celular de vagabundo, desfilaria por aí enquanto uma câmera me acompanha de frente no melhor estilo Stanley Kubrick.

Mas enfim, esse post é curtinho e tem um único objetivo: quero ouvir de vocês, meus leitores, como foi ou como está sendo o desafio Livrada 2011. Conforme alguns de vocês, que não tomam cachaça no café da manhã, devem se lembrar, instaurei aqui no blog, seguindo a modinha de outros, o primeiro desafio literário qualitativo, que preza a qualidade do livro ao invés do número de páginas ou a quantidade de tomos que você precisa ler em um ano (aliás, todo ano faço uma listinha dos livros que eu li e preciso dizer que esse ano estou batendo recordes. Se tivesse uma olimpíadas disso, eu representaria o Brasil junto com o Paulo Venturelli). O problema é que qualificar um livro é mais difícil do que parece, então resolvi aplicar um conceito arbitrário: quatro livros de um mesmo prêmio Nobel. A ideia me pareceu nobre por incentivar a leitura de caras mundialmente renomados e não exigir muito. Claro que não é tão nobre quanto a Mulher Maçã escalada para rainha de bateria da Mocidade Independente e cobrir seu corpo nu com réplicas de pinturas de Candido Portinari para incentivar a cultura no Brasil, mas ainda assim é uma boa ideia, vai.

Bom, sendo assim vocês, meus principais leitores, aderiram à brincadeira — pelo menos no começo — e cada um deixou registrado aqui suas escolhas. Temos os seguintes leitores e os seguintes autores escolhidos:

Fausto – Mario Varga Llosa

Lucas – Harold Pinter
Raphael – J.M. Coetzee
Jack Guedes – ? (só falou que ia participar)
Angela – Mario Vargas Llosa
Francine – José Saramago
Carlinha – Orhan Pamuk
Suelen – Doris Lessing ou Günter Grass ou J.M. Coetzee ou Samuel Beckett
Lálika – J.M. Coetzee
Olga – J.M. Coetzee
Isabelle – José Saramago
Alison – Harold Pinter
Bom, eu escolhi um autor também, para incentivar a vocês da mesma forma que a Mulher Maçã incentiva a cultura brasileira, e escolhi V. S. Naipaul, o Charlie Chan de Trindade e Tobago. Vergonhosamente, porém, eu fui o primeiro a falhar no desafio: li apenas UM livro do rapaz, Uma Casa para o Sr. Biswas, que vocês viram resenhado aqui. Para minha defesa, não foi por vagabundagem que deixei de cumpri o combinado. Como alguns de vocês devem saber, acontece que nesse ano me tornei um crítico literário de verdade, que lê adoidado, entrevista escritores e recebe convites para eventos especializados. Com isso, gostaria de dizer que sobra muito pouco tempo para as leituras de prazer, mas a verdade é que não sobra absolutamente nenhum tempo. Espero que vocês não tenham passado pela mesma situação e tenham conseguido atingir suas metas de leitura. Estou aguardando ansiosamente vosso feedback.
Ps: eu sou lindo.

Rosa Montero – A Filha do Canibal (La Hija del Caníbal)

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Sempre falo isso no final de cada post, vamos tentar falar por primeiro pra ver se vocês prestam atenção, seus cabeças de vento! Rá, brincadeira, aqui ninguém é cabeça de vento, os leitores do Livrada! são sempre os mais espertos e os mais cheirosos.

Como vocês estão, gente? Susse no musse, de boa na lagoa, suave na nave, de leve na neve, tranquilo no quilo, de bobeira na ladeira, seguro no muro, beleza na mesa, jóia na jibóia, manso como um ganso? Espero que sim, porque aqui tá tudo aquele pandemônio nosso de cada dia. Mesmo assim, é sagrado: domingo sim, domingo não, cá estou eu para encher o seu cérebro de besteira ao mesmo tempo que exerço uma boa influência na sua formação. Tipo quando o Tim Maia começou a ler o Universo em Desencanto, ou quando o Jaime Palilo fugiu de casa e aquele mendigo ensinou ele a tocar gaita.

O livro de hoje é de uma autora que, se vocês são freqüentadores assíduos desse blog (vou fazer uns bottons, quem compra?), não é uma completa desconhecida: é a espanhola Rosa Montero, da qual já resenhei A História do Rei Transparente e História de Mulheres. Bom, ao contrário dos recém-supracitados, A Filha do Canibal é um romance mais limpo, no sentido de que não é histórico, não tem ensaio, não tem nada além de um puro e simples romance com uma dose considerável de suspense. Mentira, tem um pouquinhozinho dessas coisas que eu falei que não tinha, mas a julgar pelo exagero dessas doses na obra da Rosa, é quase como se não tivesse.

A história começa a partir de um mote totalmente banal, mas que abre marge pra toda sorte de maluquice que você desejar colocar num romance a partir disso: Lúcia Montero, uma mulher casada de meia idade, está pronta para viajar com o maridão no réveillon quando o fulano pede pra ir no banheiro. E pronto: o cara some dentro da casinha. A partir daí, a moça fica desesperada pra tentar descobrir o que aconteceu com o rapaz e acaba se envolvendo com uma gangue de malucos, a saber: Fortuna, um ex-toureiro e anarquista que preenche boa parte desse livro com suas historietas da guerra civil, e Adrián, um garotão pelo qual as cocotas se perdem e que parece meio burro.

Paralelo à investigação sobre o desaparecimento do maridão, Lúcia relembra sua vida, incluindo o fato que não lhe escapa que dá nome ao livro: seu pai comeu carne humana quando foi um dos únicos sobreviventes de uma expedição aí que já não lembro pra onde. Francamente, não sei qual é o problema. Eu sou uma daquelas pessoas que não tem remorso de comer boizinho, porquinho, galinha, churrasco de gatinho, enfim, se for gostoso, tô comendo. E isso incluiria, hipoteticamente, carne humana também. Mas enfim, pesquisei sobre isso, a parada é ilegal e não vou ficar falando disso porque logo vem um zé Mané querer me enquadrar no artigo 287.

De qualquer jeito, o barato do livro é ver como a relação que Lúcia achava que ela tinha com o marido já havia mudado muito e que o sujeito já era praticamente um estranho pra ela. E aí vai umas ideias muito erradas de como a gente não conhece as pessoas mesmo e patati patatá, perdi o fio da meada e parei por aqui. Eu posso, eu que mando nessa porra. Posso até fazer um emoticon no meio do texto. 😀

Liga não que o post de hoje é curtinho mesmo. É que lembro muito pouco desses livros que eu li, mas lembro que são bons o bastante para não serem esquecidos, e por isso faço questão de divulgá-los aqui para vocês. Entendam que, apesar de ser de ruim memória, é de bom coração. Fazê-los conhecer os livros queridos da minha estante é o mínimo que posso fazer por tantas coisas boas que eles me trouxeram.

Agora vamos falar desse projeto gráfico aí. Ó, a imagem que eu escolhi da capa tem um sentido muito legal. Não escolhi essa imagem só porque foi a única que eu achei na internet com um tamanho decente e com o padrão de cores pouco distorcido. Foi também por causa dessa cinta maravilhosa que a editora colocou. “Da autora de A Louca da Casa”! Sensacional, colocaram o título a partir de um dos maiores sucessos da autora que por acaso também é um dos livros mais difíceis dela. Isso é que eu chamo de valorizar a inteligência do leitor. Ponto pra editora. E o papel é pólen e a fonte é Minion! Mais dois pontos! Ê! Mas agora o livro perde todos os outros pontos. Primeiro por causa dessa capa horrorosa, uma espécie de Matisse-de-Ressaca numas cores suspeitas. E principalmente, e aqui vão desculpar a minha arbitrariedade, por causa da editora Ediouro. Veja, não é que eu odeie a Ediouro, mas esse nome e essa logo do bonequinho com um livro aberto provoca todo tipo de relação pavloviana na minha mente, porque os livros que eu precisava ler obrigado para a escola eram todos, ou em sua grande maioria, da Ediouro. E hoje quando eu pego um livro da Ediouro para ler por prazer, eu já penso que vai ter uma prova sobre o enredo. Brrrr, que calafrios me dá isso. Editoras: considerem fazer um selo propositalmente desagradável para os pimpolhos, para que eles não cresçam odiando vossa casa editorial. Enfim, só uma ideia. E com essa me despeço!

Comentário final: 333 páginas. Aprendi a tocar minha primeira música dos Beatles ontem. Isso porque não sou lá fã dos Beatles. Mas curti.