Esse ano o querido Michel Houellebecq vem para a Flip. Como brasileiro é um povo festivo com gringo mas ao mesmo tempo não manjam muito das celebridades que vem aqui, resolvi fazer esse serviço de utilidade pública e apresentá-los a vocês, queridos leitores e a vocês, queridos jornalistas que deixam tudo pra última hora. Ó, tô falando disso uns quatro meses antes da festa, dá tempo de se informar e ainda sobra pra ler um ou outro livro dele, se é isso mesmo que você tem que fazer. Pros preguiçosos, pega o resumão e comentário aqui e sai por aí esbanjando o conhecimento que você não tem.
Partículas Elementares é um dos primeiros livros (o segundo, acho eu) do grande escritor francês radicado na Irlanda Michel Houellebecq. Fala de dois meio irmãos: um chama Michel (atenção, jornalistas: os personagens dele geralmente chamam Michel) e o outro chama Bruno. Bruno é o típico moleque que foi gordinho quando criança, cresceu e virou gatão e, pra se vingar da humanidade, come geral pra tentar machucar o coração de alguém (tá, essa última parte eu presumi, mas deve ser). Michel é o típico moleque que foi bostão quando criança, cresceu e continuou bostão, sendo virgem aos não sei quantos anos. Ele trabalha com pesquisa em biologia e está fazendo alguma coisa relacionada a partículas elementares, algo que vai dar um boost na sua carreira e na medicina de uma maneira geral, mas agora não lembro exatamente o quê porque faz um tempasso que li esse livro, uns bons três anos. E o Bruno é professor, querendo comer as aluninhas (hum, igual a um certo professor que tive uma vez numa certa escola de jornalismo), mas frustrado porque a gatinha em que ele está de olho dá pra um negão avantajado — o pesadelo de todo cara branco que não se sente competitivo. Enfim, os dois meio-irmãos, filhos de uma biscatinha da década de 60, se encontram no funeral da mãe, e aí se conhecem e resolvem passar tempo juntos. Vão para um retiro, uma espécie de hotel/SPA numa praia paradisíaca, onde lá Bruno conhece uma gatinha e Michel descobre o paradeiro de sua amada de outros carnavais, Annabele não sei das quantas. Bom, como todo livro do Michel Houellebecq, tudo vai bem, tudo vai bem, até que vai mal. E com esse cara você sabe que, quando eu digo que vai mal, é porque vai mal MESMO.
Bom, nesse livro aqui não temos nada de muito diferente do que o autor veio a explorar melhor em seus livros subseqüentes, com a diferença que este foi o primeiro livro que virou filme, acho eu. O filme é uma produção alemã com atores alemães dos quais nada conheço, e o roteiro pesou muito mais nas partes cômicas, que são sim, pontos fortes do livro. O livro é mais triste, mas acho que o é por ser um livro, afinal, ler não é exatamente uma parada super engraçada que você fica com a barriga doendo de tanto ler. O livro em si é bem escrito mas tem um ritmo mais arrastado que o normal em um Houellebecq legítimo (and I ain’t no Houellebecq girl, I ain’t no Houellebecq girl, já dizia Gwen Stefani), e, como acontece n’A Possibilidade de Uma Ilha, tem um epílogo completamente desnecessário. Tem gente que não sabe a hora de parar de escrever e… opa, é comigo? Ok, ok, parei.
Essa edição da Editora Sulina, lá do Rio Grande Tchê, não é exatamente a edição que eu tenho. Essa capa do livro é a capa do filme também, e a capa do meu livro é um ventre de mulher com a mão na coisa e a coisa na mão. Logo eles perceberam que, por mais que a imagem seja bonita, é o tipo de coisa que impede que a pessoa tímida de criar coragem e levar isso no caixa da livraria, principalmente se a caixa for uma mulher, e principalmente se ela parecer meiguinha. A tradução é do Juremir Machado, um cara porreta, catilogente e sabido (já falamos aqui), mas meio inusitado pra escrever as orelhas. Ele descreve um felatio como “uma mulher de boca ousada”. Ew, Juremir, deve tá ouvindo muito Lupcínio Rodrigues, fala a verdade! No mais, papel offset desgracido e fonte garamondo do coração dos manos do terminal de ônibus. A numeração dos capítulos tem uns arabescos que ficaram quase invisíveis, e a quarta capa lista uns elogios aqui e ali, além de um “traduzido em 21 línguas” que, pra mim, não quer dizer nada. O livro dos recordes é traduzido em quarenta mil línguas e eu continuo não lendo, afinal.
Comentário final: I ain’t no Houellebecq Girl!