Lourenço Mutarelli – O Cheiro do Ralo


O Cheiro do RaloE aí galera, belezinha? Estamos chegando ao final de mais um mês, daqui a pouco o Livrada! completa quatro meses, como o tempo se arrasta…

Gente, vamos ajudar a divulgar o blog. Linkem, mostre para a sua avó, sugiram como pauta para os seus veículos de comunicação, comentem com os amigos na rodinha do café, pixem a URL nos muros da cidade (mentira, não façam isso que é contra a lei!), enfim, vamos expandir essa pequena comunidade de leitores, hã, que tal? Assim todo mundo se anima a inventar coisas novas…

O post de domingo é aquele post garoto, aquele post malandro, oportunista que só ele, pegando carona no hype da galera, surfando no tsunami da modinha. Eis que, sexta feira, Lourenço Mutarelli, autor de hoje, esteve na Itiban para bater um papo com seus fãs e leitores em geral. E pensei: “Ora, por que não fazer um post sobre o gajo?” E, para escolher a obra a ser tratada aqui primeiro (pois tenho essa ambição louca de resenhar todos os livros que já li), resolvi escolher O Cheiro do Ralo, não só porque foi o primeiro livro dele que eu li, segundo porque o filme, baseado na obra, tem aquele significado especial pra mim e quem sabe tá ligado.

Lourenço Mutarelli disse lá na Itiban que a ideia para o livro veio de um pensamento trivial, que é o seguinte: seu ateliê de literatura e desenho fica no quartinho da empregada, que tem um banheirinho (é chique pacaceta isso: a única suíte do apartamento quase sempre é da empregada) do qual saía um cheiro horroroso. E ele pensou que, um dia, esse cheiro ia acabar queimando os miolos dele. A partir daí, compôs uma maravilhosa história sobre a loucura e as possessões, protagonizada por um personagem que ele diz ser o oposto dele em termos comerciais. Mutarelli afirmou sempre ser muito mal tratado pelo comércio por sua mal-trajância (aí, galera do dicionário, chega mais) e resolveu que seu herói cuzão seria alguém que sempre levasse vantagem nas negociações, sempre lucrasse. Daí nasceu Lourenço, dono de uma lojinha de objetos usados que é atormentado pelo cheiro do ralo do banheiro. Impetuoso e cruel com seus clientes, só possui duas fraquezas: o cheiro do ralo, que não quer que ninguém pense que é dele, e a bunda de uma garçonete de um botecão.

Lourenço MutarelliA história é um pouco indescritível por ser formada de vários acontecimentos sem muita conexão entre si. Basicamente é o retrato das obsessões do personagem em busca da famigerada bunda. Diria que o filme é recomendável para conhecer o universo de Mutarelli, não fosse o livro ser tão mais esclarecedor nesse sentido. Primeiro que muitas das histórias escritas não foram transpostas para a tela (entre elas, a do sujeito que gostava de rasgar dinheiro, um dos pontos altos da trama), segundo porque o estilo do autor, extremamente econômico nas palavras, dá a história um pouco do distanciamento necessário para a noção do desconhecido, mesmo que se trate de uma narrativa interior, com fluxos de pensamentos e tudo mais (herança beatnik, né? Ele deve ser o único cara da face da terra que fez algo de bom com essa influência beat). Mas sim, assistam o filme também, afinal, tem o Selton Mello, esse sujeito engraçado que só faz papel de si mesmo e transformou uma história extremamente down em algo, no mínimo, tragicômico.

Mutarelli escreveu o livro em 2001, durante cinco dias, e publicou pela Devir esse livro. Eu realmente espero que algum dia ele consiga que esse livro seja republicado por outra casa editorial. Vamos combinar que a Devir pode manjar de quadrinhos, mas puta merda, tem muito o que aprender na editoração de literatura. Se eu disser pra vocês que a ficha técnica do livro tá escrita em Comic Sans, vocês vão dizer “esse Yuri diz cada besteira…”. Mas é sério. Pior de tudo é que é sério. E não é tudo. Papel offset horroroso, capa mole sem orelha podrassa e, depois que o filme foi lançado, uma dessas capas de papel que cobrem a capa original pra levar o livro no sucesso da telona, só que é um papel tão vagabundo que ele raspa e perde a impressão, parece aquele papel de bobina de cartão de débito, de tão podre que é. Um desrespeito tamanho com a obra do cara. Se fosse comigo, eu ficaria puto.

Há pontos positivos também. Na quarta capa antiga, uma carta do músico (?) Arnaldo Antunes muito elogiosa, e na quarta capa nova, o depoimento de Selton sobre como ele se tornou o Lourenço na adaptação cinematográfica. O prefácio (econômico que só ele) é assinado por ninguém menos que Valêncio Xavier (hum, preciso falar de algum livro dele por aqui, não acham?) e os capítulos são permeados de ilustrações do próprio autor, uma prática que se mostrou constante em suas publicações literárias futuras. E claro, o principal ponto forte dele é a grande história. Mas, no resto, parece livro pirateado.

A resenha de hoje está curtinha, eu sei. Voltaremos na quarta com mais livros bons.

Comentário final: 142 páginas de offset. A vida é dura.

12 Respostas para “Lourenço Mutarelli – O Cheiro do Ralo

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  2. divulguei também! é tanta coisa pra ler, tanta coisa, que eu queria que meus dias tivessem mais horas (ou que eu conseguisse ler mais rápido).
    não li o livro, não gostei do filme da primeira vez que eu vi, mas da segunda gostei e bastante!

    • Poxa vida, Cami, sei exatamente o que você quer dizer e compartilho da sua angústia. Preciso ler mais…
      O filme fica cada vez melhor, a cada vez que você assiste ele, mas o livro também é bom! Sabe que agora eu to lembrando que acho que terminei de ler esse livro, voltei pro começo e li tudo de novo?
      Beijo!

  3. Como dizia o slogan dos distantes anos 70 que ecoam como um mantra até hoje? “Leia o livro, veja o filme”. Infelizmente, só vi filme com o Selton Melo, por sinal espetacular, tão econômico quanto eloquente na mensagem que quis passar. Nem parecia filme nacional, se me perdoam a observação.

    • Oi Juvenal,
      Realmente o filme não parece nacional. Não fiquei muito por dentro, mas me lembro que comentavam muito o orçamento do filme e as técnicas usadas, muito boas para os padrões nacionais da época. Esse filme me fez acreditar novamente nas produções nacionais, e o Selton Mello tá ótimo. Aliás, até o próprio Mutarelli, como segurança (todo vestido de vermelho igual o diabo) está impagável.
      Abraço!

  4. o Mutarelli é uma figuraça! preciso ler alguma coisa dele.

    e por falar em ler, você e a Carla me devem algumas horas de sono: ontem à noite não conseguia parar de ler o livro de vocês, o capítulo sobre o Dahmer está sensacional. daí dormi muito tarde, e hoje fiquei com o maior sono no trabalho.

    vocês DEVEM publicar esse livro, tomara que dê certo lá no Caderno Listrado, tô fazendo figa, acendendo vela e torcendo.

    abraço!

    • Cara, que legal que você tá gostando do livro! Fico muito feliz mesmo. Pro trabalhão que ele deu, se só você gostar de lê-lo, já valeu a pena. 🙂
      Vamos correr atrás da publicação sim! Valeu pela torcida!
      Abraço!

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