Cristóvão Tezza – O Fantasma da Infância


Fanstasma da InfânciaEis que chegamos à incrível marca de cinquenta livros comentados por aqui. Cinquenta, mermão, eu disse cinquenta. Quem diria… Meus amigos, a vida não anda fácil, ando cantando por aí aquela música do jumento, dos Saltimbancos (e o pior é que não é essa virtude do jumento — que vocês estão pensando — que eu tenho), mas enquanto esta comunidade de leitores continuar crescendo, vamos em frente. Por isso, divulguem sempre, seja no twitter, no facebook, no orkut, na cantina, na verdurada, no churrasco, na igreja ou na casa de suíngue. Aliás, tá na hora disso aqui ficar famoso. Quem é que sugere esse blog como pauta para os veículos alternativos e descolados, galera? Amigos jornalistas, quantas vezes vocês me pediram ilustração e eu fiz na moral (esqueça as vezes em que eu não fiz, ok?) Vamos lá, vamos agitar, porque ficar parado é coisa de Fiat 147.

Pois vamos ao que interessa: Cristóvão Tezza, esse bonachão, um dos únicos orgulhos desta cidade cheia de Francine de Curitiba, Maior trapézio de Curitiba, Copacabana Club, Bonde do Rolê, e outros escritores meia-boca que não cito nomes para não perder os amigos. Tezza estava indo por uma viela discreta rumo ao estrelato na literatura nacional, mas aí lançou o Filho Eterno (excelente livro, já leram?) e caiu no gosto das velhinhas ricas e amantes dos livros da Sextante. Aí já viu, ficou no top cinco da terceira idade, logo ali entre o Código Da Vinci e o Caçador de Pipas. A gente nunca sabe onde um livro vai parar, não é verdade? E palmas pra ele por esse feito, jogar um livro bom no colo dessas bruxas é tarefa hercúlea, Gabriel García Marquez que o diga.

Mas, antes do Filho Eterno, bem antes, no longínquo ano de 94, enquanto o Tag Team disparava nas rádios com Whoop! (There it is), o popular Uh Tererê, e Celine Dion aterrorizava o mundo com The Power of Love, saía discretamente pela editora Rocco um livro do autor chamado O Fantasma da Infância. O livro, embora independente, teria uma ligação com um livro anterior de Tezza, Juliano Pavolini, que, ao que parece, poderia se chamar O Apanhador no Campo de Leitê Quentê. O Fantasma da Infância tem uma história muito interessante: André Devinne é um escritor em plena queda livre, rumo ao balaio de R$9,90, se acotovelando para ganhar oxigênio entre o “Manual de Programação Cobol” e o “Piadas de Sogra do Tonho dos Couros Vol. 8”. Ganha a vida fazendo bicos, digitando classificados no jornal (na época da máquina de escrever, provavelmente). Eis que cai numa cilada e é sequestrado por um bandidão ricasso, que o obriga, em cativeiro, a escrever um romance. E aí começa outra história: nessa, André Devinne é um sujeito com a vida boa, até que um dia encontra com um velho conhecido que guarda um segredo do passado. E aí, as duas histórias vão caminhando paralelamente, no melhor estilo realidade paralela de 6ª temporada de LOST, no melhor estilo GAMER, o filme onde o poder de sugestão salva o dia.

Cristóvão TezzaÉ uma pena que esse livro do Tezza seja tão pouco conhecido, mesmo entre os seus leitores. Porque é nele que o autor se mostra em melhor forma para brincar com bichos metalingüísticos, estilos diferentes, suspense de trama amarrada, uma escrita dentro da escrita (Yo, dawg, i heard you like…). É sim, sensacional. Para se ter uma ideia: a história que André Devinne escreve é sobre ele mesma, mas narrada na terceira pessoa (o que Tezza faria tempos depois, no Filho Eterno), ao passo que a história de seu sequestro, sobre a qual não tem controle nenhum, é narrada em primeira pessoa. É ou não é para derrubar o colono da ceifa, como diz todo mundo que eu conheço lá de Pinhalzinho (alô, Pinhalzinho!)? Um livro com muita consciência do que está sendo feito, pode crer.

Esse livro foi um dos que entraram na ciranda da republicação da Record quando o Tezza migrou de editora, junto com Trapo e Aventuras Provisórias. É uma coleção linda, com a brochura precisa e serradinha que já virou marca registrada da editora, capas coloridas (com cores metálicas e meio gritantes, mas tudo bem), nome do autor em alto relevo brilhante e o título do livro com uma fonte que parece um pouco inspirada na caligrafia de médico-bebum-que-passou-duas-horas-pulando-na-cama-elástica que é peculiar do Tezza (o senhor não fica chateado não, né?), mas desconfio muito, porque tá legível demais. Se bem que a ideia é muito boa e deveria ser aproveitada. De qualquer jeito, é uma coleção preciosa, uma honra para pouquíssimos autores brasileiros vivos. Acho que é só ele e a Lygia Fagundes Telles que tem livros tão bonitos sendo publicados atualmente. Ah, e o Rubem Fonseca também, uma coleção da Agir que tá uma teteia (sem acento, nova ortografia). Beleza de papel pólen soft e fonte Slimbach, que eu não gosto muito particularmente (parece fonte de livro infanto juvenil), mas que estou disposto a aprender a gostar por causa do grande Cristóvão. Aliás, quando será que sai o livro novo dele? Aguardaremos.

Comentário final: 239 páginas pólen soft. Catapimba!

15 Respostas para “Cristóvão Tezza – O Fantasma da Infância

  1. O Tezza é um grande escritor e temos a honra de termos sido seus alunos. “Trapo” deixou profundas marcas em mim; é um livro muito importante em minha vida.
    Fiquei com muita vontade de ler “O Fantasma da Infância”.
    Agora, já reparou como os melhores escritores brasileiros ainda vivos estão ganhando edições lindas?! Tezza, Lygia, Mutarelli, Rubem Fonseca…

    Beijos 🙂

    • Oi, querida, realmente o Trapo é um grande livro (que passará por esse blog também), e a coleção do Mutarelli que a Companhia das Letras está lançando é muito bem feitinha. Você que já leu Juliano Pavolini vai gostar do Fantasma da Infância.
      Beijo!

    • E aí, Sobota. Valeu por ter passado aqui. Ele é um ótimo professor mesmo, mas não é exclusividade: o pessoal lá de Letras, inclusive e supreendemente os linguistas também, são todos excelentes. Sugiro pegar uma matéria ou outra lá com a professora Marilene Weinhardt ou com o Marcelo Sandmann, pessoas boníssimas e professores espetaculares que fizeram da faculdade um período mais produtivo.
      Abraço!

  2. Saudade de 2006, quando a gente fazia aula com o mestre Tezza e ria dele rindo de si mesmo! =D Excelentes piadinhas! =D
    Esse livro dele eu ainda não li, embora tenha lido outros muitos. Mas a gente sempre tem que deixar uma coisa ou outra não lida para que o autor nunca se esgote (estratégia de loucos, eu sei, mas enfim!). Acho que vai entrar pra fila, por que eu fiquei curiosa com toda essa engenharia da narração…
    E não posso deixar de dizer que ri muito com a resenha, tá massa o blog!
    Beijo, Yuri!
    Manu

    • oi Manu! Legal você passar aqui!
      Pô, jogando nossa idade assim pra geral? hahaha 2006 parece tão longe agora… Eram muito boas as aulas dele mesmo, e agora acabou-se o que era douce.
      Também faço isso de guardar livros pra não esgotar autores. Queria ter feito isso com o Michel Houellebecq, por exemplo, mas sempre sobra um Italo Calvino ou um Coetzee pra matar uma saudade de vez em quando. 😀
      Valeu pelos elogios!
      Beijo!

  3. só tem uma coisa chata… eu não ter lido estes livros antes de ler as resenhas. quando agente já leu outro do mesmo autor ainda funciona. SUGESTÃO: duas semanas antes de cada resenha voce envia um exemplar para minha casa. QUE TAL?
    PS: não tenho preconceito contra edições de bolso nem livros usados.

    • Ahahahah ótima sugestão, Vinicius, se isso aqui fosse um blog do Eike Batista, rolava sem problemas. Mas já estou perdendo dinheiro o suficiente com essa empreitada pírrica nesse deserto dos tártaros. Tenho outra sugestão: Visita lá a minha página do skoob e começa a ler as coisas que eu já li, você vai começar a sacar mais dos livros que eu falo aqui. 😀
      Abraço!

  4. TINHA UM MOVIMENTO POARA TODO MUNDO LER O MESMO LIVRO JUNTO NÃO TINHA? ouvi falar disso uma vez – não lembro o nome nem sei se funciona… Mas se a proposta for boa, pode ser uma experiencia interessante, nesses tempos de twtter…

    • Ora, mas pra isso não precisa de twitter. Se você olhar, ali no canto inferior direito do blog, lááá embaixo, tem um quadradinho onde lê-se “Estou lendo”. Aí tudo o que você precisa fazer é ler o mesmo livro que eu. 😉
      Abraço!

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  7. Puts…Tezza virou uma febre em minha vida. Li tudo que pude encontrar. Escritor urbano,como filme argentino: crise da classe média, do homem médio, impossivel nao se identificar. Adoro o Milton Hatoum também, mas a ambientação mais urbana do grande Tezza me envolve demais. Esse foi meu ultimo, O fantasma. Acabei ha uma hora,aqui no plantão..rs Demorei para me atentar a diferença do narrador, e tal.. e esse estalo ao final do livro foi um prazer que se somou ao degustar de sua escrita. Parabéns ao grande Tezza e aos que puderam conhece-lo pessoalmente.
    Abraço a todos!

    • Oi Wande. Gostei de você ter lembrado de passar aqui pra deixar sua opinião sobre o livro que acabaste de ler! Obrigado.
      Vou te dizer que preciso ler Milton Hatoum, mas concordo com tudo o que disse sobre o Tezza. Ele é ótimo mesmo. O que mais leu dele?
      Abraço!

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