Tô me sentindo uma daquelas gatinhas de Hollywood que se envolvem com drogas e tempos depois saem da rehab com um aspecto cadavérico, peito caído e muita entrevista pra dar na Oprah. Tô melhorando, galera. Olha só, minha última postagem foi há duas semanas e já respondi todos os comentários pendentes de antes. Tô me regenerando, Risoflora! Não vou dar mais bobeira dentro de um caritó, agora é só pimba na gorduchinha e vamo que vamo que o som não pode parar.
Vamos combinar que uma postagem a cada quinze dias tá valendo, ok?
O livro de hoje vem para reafirmar uma tecla que venho batendo há algum tempo: Lourenço Mutarelli é uma das vozes mais originais e instigantes da literatura brasileira em muito tempo. Mas ô escritorzinho subestimado, meu Deus. Abram os olhos pra esse cara de uma vez por todas que ele merece ser lido não só pela galera nerds que acompanhava os Transubstanciação e Dobro de Cinco da vida. Ele é bom como romancista também, e não tem nada a ver com o que ele fez antes. O bicho é bom e subestimado, é Captain Beefheart da literatura nacional.
A Arte de Produzir Efeito Sem Causa é, se não me engano, o primeiro livro dele lançado pela Companhia das Letras. Acho que quando o cidadão vai pra essa editora, os olhos se voltam mais pra ele, mas peguem o Cheiro do Ralo pra ler e comprovem o que eu digo. Fico feliz que Mutarelli não seja mais tão pop quanto era há uns dois anos atrás, quando escrevia peça de teatro pra Mariana Ximenes e o escambau, daqui a pouco ele tava indo no programa da Hebe dar selinho naquela múmia e pegar a herpes de Amenófis IV. Escritor tem que ser low-profile mesmo, senão essa vida hypada (vem de hype, Juvenal) vira a cabeça do cara. A Globo é uma máquina de fazer Paulos Coelhos. Aí, valter hugo mãe, aproveita o tema e faz mais um livro. (sobre o valter hugo mãe: que nominho, vamos combinar. Não basta o cara chamar valter, o sobrenome dele ainda é mãe!).
Bom, tergiversei como manda o figurino, agora vamos ao que interessa. Esse livro é um dos grandes livros do Mutarelli. Conta a história de Junior, um cara que trabalhava numa revendedora de auto-peças e se divorcia da mulher, que deu em cima do amiguinho do filho, e resolve ir morar com o pai dele. Lá conhece uma mocinha que eu já esqueci o nome e que tô tão sonolento pra procurar no Google que nem tô arriscando fechar essa janela do Word pra não começar a babar com o queixo no peito nem to dando ponto final olha só to embalando legal essa frase uuu to doidão de sono. Brrr, me dei uns tapas e acordei, voltando ao assunto. Lá ele conhece uma mocinha por quem sente uma leve pontada no zíper da calça, mas é só isso que vou falar sobre o assunto.
O que interessa para a história é esse movimento de voltar a morar com o pai, a simbologia para a derrota da vida sobre o homem, como o próprio Mutarelli me disse em uma simpática entrevista que fiz com ele por telefone. Derrotadão e cansado de apanhar da vida, devendo as cuecas pros outros, Junior começa a receber correspondências estranhas pelo correio, que ele crê que sejam peças de um quebra-cabeça que cabe a ele montar (essa frase me lembrou dessa música, sempre uma boa pedida). Já dizia alguém – Chico Xavier, talvez – que a mente vazia é a Yoguland do diabo. O sujeito começa a pirar nas encomendas e, mais noiado do que o Capitão Ahab visitando o Sea World, afunda no suposto quebra-cabeça enquanto tenta segurar as pontas de sua vida, que já tá mais capenga do que pé-de-meia de grego.
Se tem uma coisa que Mutarelli entende nessa vida de meu Deus é de loucura. O cara é PhD em doidice pela Universidade Pinel Senor Abravanel, ocupante da cadeira número 22 da Academia Brasileira de Loucura (ABL, essa mesma), cujo patrono é Giordano Bruno. Em A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, o autor mostra direitinho o processo de endoidamento da pessoa, e é assustador, é quase como ver um parente-problema (problema na família, quem não tem?) com quem você tem que lidar porque você não tem escolha e porque qualquer família tem uma cota pra maluco (geralmente de dois terços).
Essa edição da Companhia das Letras valorizou o enredo, e não é todo dia que o projeto gráfico de um livro ajuda na experiência imersiva do leitor. Com desenhos (doodles) feitos pelo próprio Mutarelli, o livro tem um formato assim meio de Moleskine falsificado e tem um miolo cheio de rabiscos atribuídos a Junior. Mas entre os escritos também há intervenções do projeto gráfico, que complementa a história com letras escritas à mão (simulando, né, animal, não colocaram ninguém pra trabalhar no ano novo escrevendo letrinhas em 3 mil livros) e outros rabiscos e desenhos que têm como objetivo entender o raciocínio de Junior no mistério. Aliás, não espere muita solução nos livros do autor, é melhor prestar atenção nesses elementos que eu to falando. Tenho essa ideia de que saber o que olhar antes mesmo de começar a ler o livro é importante pra você não sair odiando o autor pelas razões erradas. Fonte janson e papel pólen velho de guerra irmão camarada. Quer mais o quê? Enfeita sua estante e o seu cérebro.
Comentário final: Semana passada não postei sabe por quê? Estava na junket do Transformers 3, que estreia na semana que vem. Rá, vi o filme antes de todo mundo, e o Michael Bay sentou bem na minha frente. Acho que passei uma gripe pra ele, espirrei bem na nuca do infeliz.
Li este na época do lançamento, do Mutarelli eu só conhecia o Filme cheiro do ralo. Foi mesmo uma leitura bem diferente, e um livrinho muito bem escrito – tradicionalmente falando – na primeira parte onde ainda existe sanidade – depois que a coisa fica louca é dificil manter o pé no chão, até porque nunca entendi de onde vinham afinal os tais pacotes – ficou algo meio sobrenatural, e que só relendo para encontrar mais respostas.
Oi Leonardo, gostei desse aspecto em particular do livro também. Acho que o Mutarelli sempre vai deixar uma ou outra ponta solta nos seus livros, pro pessoal viajar em cima disso. É algo saudável para um autor que deseja ser comentado, a obra que encerra em si mesma logo junta poeira.
Só uma coisa, caro: aqui no meu blog você pode tudo, xingar, reclamar, discutir, etc. Mas não faça nada parecido no blog da minha namorada, não é legal e eu não quero fazer baixaria a essa altura do campeonato, belê? Abraço!
Este livro é excelente! Prova que Mutarelli é um da meia-dúzia de bons escritores vivos do Brasil.
Beijo!! =)
Coincidência ou não, mas que escreveu a orelha/prefácio do novo livro do valter hugo mãe, “A máquina de fazer espanhóis”, foi o Mutarelli. A pintura da capa, muito bonita por sinal, também é dele. A grande questão é que esse livro foi publicado pela Cosac naify. Estará o Mutarelli flertando com outra editora?
Tô ligado, Victor. Mas acho que não tem nada a ver o Mutarelli cogitar ir pra Cosac. Acho que ele desenvolveu uma relação bem saudável com a Companhia. 🙂
Abraço!
Concordo, queridinha!
Do Mutarelli, só conheço msm O cheiro do ralo e infelizmente pelo filme ainda, ou felizmente, pq gostei bastante do filme. É um autor que já estava sondando há um tempo, então começarei por este livro! rs
abração!
PS: E 15 dias para atualizar o blog é muita coisa! vc deve ter umas madrugadas insones ai! Aproveite-as! 🙂
Agora a Companhia das Letras relançou o livro, Pousa, e é bem bonito! Sua chance!
E não me coloque pressão ¬¬ ahhahaha
Abraço
What’s the problem com o valter hugo mesmo? Eu ia comentar a mesma coisa que o Victor: Mutarelli assina a orelha do mais recente livro lançado por ele. Alguma afinidade entre os dois deve rolar. Bem, parênteses à parte, gostei da resenha. Conhecia o Cheiro do Ralo através do filme e do livro e já tive a oportunidade de folhear O Natimorto (que também foi adaptado pro cinema há uns três meses) e Miguel e os demônios. O cara é bom. É questão de (pouco) tempo até ser conhecido Brasil afora.
Concordo, Juliana, acho que não vai tardar e ele vai ser um dos grandes nomes da literatura. ABL, abram alas!
A sonolência confere uma curiosa fluidez ao texto. E apreciei muito a menção ao Captain Beefheart.
Verdade, cara, vou escrever o próximo post pra lá de bagdá também.
Captain Beefheart nos nossos corações!