Jorge Luis Borges – O livro dos seres imaginários (El libro de los seres imaginarios)

El libro de los seres imaginariosVish, garotada. Passamos o ano inteirinho sem falar do Jorge Luis Borges, mas não foi por mal. Vieram outros autores na frente, mas a estante aqui de casa está sempre reservada para mais livros desse cabra da peste.

Antes de mais nada, novidades! Agora ali do ladinho fiz uma página de recados para lembrar-lhes de suas obrigações cívicas perante este fescenino blog. E já coloquei lá, para começar, o velho lembrete de mandar as fotos de suas estantes. Então, como diz a Eliana, fiquem ligadinhos, ok? E vamos ao que interessa.

Tirou o cavalinho da chuva quem estava esperando, para começar, um comentário sobre Ficções, ou O Aleph. Se vocês repararem na cronologia do blog, frequentemente começo a falar de um autor por um livro, digamos, Lado B. Isso é resquício dos ensinamentos do professor Polaco, que disse para nunca alimentarmos a conversa de buteco dos outros dando a obra mastigada. Então, filhote, quer pagar de inteligente com teus comparsas entre uma Carlsberg e outra? Vá ler Borges por conta própria, é ou não é?

Bom, apesar de tudo, O livro dos seres imaginários, nosso foco de hoje, também é um grande e importante livro do autor. E se você chegou no planeta agora, trata-se de um compêndio sobre seres imaginários extraídos do folclore do mundo ou pensados por outros escritores, como o bicho esquisito da escada que Kafka conta em um de seus contos, acho que tem no Narrativas do Espólio, se não me engano. E é basicamente isso: a cada capítulo, um animal, com as explicações sobre sua origem, suas particularidades e, quem sabe, um pouco da história de sua criação.

Agora vê só como essa raça chamada argentino é: Borges sempre foi na contramão de toda aquela galera caliente latina que escrevia histórias fantasiosas de viajar na maionese bonito. Não que a literatura dele seja pé no chão, muito pelo contrário. Mas é, antes de tudo, na razão em que ele baseia suas excursões pra fora da casinha. Por isso escolhi esse livro. Ele mostra bem o tipo de rato de biblioteca que o Borges foi, e quase todos os contos tem algum embasamento em história ou literatura alheia. Talvez o mais emblemático seja mesmo o famoso Tlön, Uqbar, Orbis Tertius, por tudo isso que eu disse, mas deixemos pra falar dele uma outra hora.

O livro dos seres imaginários realmente mexe com a sua cabeça, de ver como as pessoas tem imaginação fértil e você aí, achando que Se eu Fosse Você 2 é o filme mais maluco da história. Talvez o bahamut seja o mais doido que eu tenha visto no livro, mas é difícil dizer, são vários, com nomes estranhíssimos do tipo ‘a bao a qu’ ou ‘abtu e anet’. Alguns já se conhece, outros nem tanto, mas para isso, tá lá o livro do sujeito que, aliás, não é tão fantasioso assim. Nos catálogos do Plínio, o Velho, rapazote naturalista romano que viveu quando os anos só tinham dois dígitos, apareciam muitos bichos que não existiam entre outros, de carne e osso. Acho que o que Borges quis fazer foi pegar o trabalho de Plinio e tirar todos os que já existiam e fazer um compêndio mais completo de seres de mentirinha.

Esse livro faz parte da Biblioteca Borges que a Companhia das Letras está lançando aos pouquinhos. A Biblioteca Borges é a prova viva de que um bom projeto gráfico alavancam as vendas de um autor. Veja só que até bem pouco tempo atrás, antes da editora começar a lançar os primeiros volumes, a editora Globo tinha dois ou três calhamaços com a obra completa do escritor a um preço ridículo, algo como 30 ou 40 reais cada livro. E ninguém nem tchuns pro negócio até que começou a aparecer esses (e o livro dos seres imaginários foi um dos primeiros títulos lançados). Vish, choveu neguinho pra coçar o bolso e adquirir um exemplar. A ideia deu certo e até hoje a editora está lançando esporadicamente volumes da obra completa do autor, com capas que estampam pinturas que não poderiam ter sido melhor escolhidas para casar com a vibe do argentino. Um troço quadradão, de linhas precisas e cores chapadas. Essa no caso é da artista plástica Judith Lauand, uma simpática senhorinha que gosta desse lance de equilíbrio e ritmo sem formas difusas. Com a dona é pão pão queijo queijo, amigo. A tradução é de Heloísa Jahm, uma tradutora muito da versátil, porque já traduziu do inglês, espanhol, francês, italiano, sueco, enfim, a moça é boa e assina a tradução de obras de Marguerite Duras, Conan Doyle, Julio Verne e Apollinaire. Então, respect! No mais, papel pólen soft e fonte Walbaum, usada na Biblioteca Borges toda.

Comentário final: 218 páginas em pólen soft. Hoje tô sem ideia de comentário final. Mas isso não faz diferença mesmo, né?

 

Nicolau Sevcenko – A Revolta da Vacina

Aí rapaziada, muita calma nessa hora. Hoje não estamos falando de qualquer autor, um vagabundo qualquer que resolveu escrever livros ao invés de ter um emprego de gente grande. O autor de hoje é nada mais nada menos que Nicolau Sevcenko, o bambambã da USP, que por acaso também é o tradutor da edição nova de Alice no País das Maravilhas. Se você não sabe quem ele é, vergonha na cara e Google no browser já, monstrengo ignoranteeee. Enquanto isso, vamos ao que interessa.

Sevcenko é então o mais novo integrante da coleção ensainhos, da Cosacnaify (falamos mais sobre isso ao final), com o livro A Revolta da Vacina. Pra você que fez supletivo, a revolta da vacina foi uma quebração de pau no Rio de Janeiro do começo do século XX, quando tiveram a ideia de detetizar a população pra ver se a varíola sumia da cidade maravilhosa. O problema é que se neguinho já é xucro com a pobretada hoje em dia, imagine só naquela época em que briga de bar não terminava até que tivesse uma mãe chorando. E tu achando que tinha Zé Gotinha dançando Ivete Sangalo na porta do posto de vacinação, né? A vacina era na base da porrada mesmo, filho. Pra piorar, não fizeram muita questão de explicar como a injeção mardita funcionava, e o povão mal informado só entendeu dessa história que o governo, que já não gosta muito de pobre, resolveu dar um “remédio” de graça pra geral que consiste em injetar a doença direto nocê. Ah, filho, a jurupoca piou bonito. Desmancharam a campanha de vacinação embaixo de cacete, e sobrou pra todo mundo. Teve nego bloqueando a rua, chinelo havaianas voando pra tudo que é lado e precisaram chamar as forças armadas pra dar um jeito na coisa. Morreu muita gente. E você achando que sua irmã era a pessoa que mais tinha medo de agulha na face da terra.

O livro então, procura traçar um panorama do episódio, explicando o que levou o governo a campanha tão drástica e por que, ou por quem, o povo se descabelou desse jeito (não, não era vontade de ficar doente, dona Fátima, tenha paciência). Compilando textos de autores da época, incluindo o vívido depoimento de um jornalista que viu de perto a cobra fumando, além de charges e fotinhas sobre o episódio, pra dar aquele tchananã de pesquisa histórica bem feita.

Na moral, peguei esse livro pra ler porque gosto muito do episódio histórico (quem é que não gosta de ver um efeito borboleta bizarro tipo a Guerra do Pente?), mas me surpreendi mesmo com a maneira lúcida e acessível com que o autor lidou com o assunto. Tudo bem que o livro é pequeno, mas devorei a leitura rapidão, de tão interessante que ele deixou tudo. E isso sem ficar aqui que nem eu recorrendo a piadinha marota ou apelando pros escândalos e polêmicas da história. É só no papo reto mesmo, mano, tá ligado? Ah, se todo livro de história fosse assim… esses maconheiros cabeludos que andam de calça jeans e sandália iam estar todos empregados dando aulinhas pra molecada. Enfim, mais um livro pra botar na estante e reforçar a ideia de que o Sevcenko é um monstro no palco e no estúdio (pergunta pro Thaíde, ele sabe).

E essa tal de Coleção Ensainhos da Cosacnaify? Bom, é uma coleção de ensainhos, cabeção, queria o quê? Tua mãe pintada de azul? Os livrinhos abordam de leve temas diversos, o suficiente pra saciar sua vontade momentânea de querer ser culto, ou o suficiente pra você ficar com a pulga atrás da orelha, mexer o rabo do sofá e procurar saber mais. O acabamento desse livro é sensacional. No verso da capa e da quarta capa, mapas do Rio de Janeiro da época, delimitando o projeto de urbanização criado pela prefeitura e pelo governo. Páginas cinzas para diferencias textos assinados por outros autores e um posfácio à edição de 2010 que é, no mínimo, emocionante. Papel pólen e fonte Perpetua, chiquerérrima com o formato do livro. Sabem que não faço isso muito, mas esse eu recomendo fortemente, foi uma das melhores leituras que fiz em 2010.

Comentário final: 140 páginas pólen soft 80 g/m². Corre, bino!

 

Rosa Montero – Histórias de Mulheres (Historias de Mujeres)

Historias de MujeresMais um domingo, minha gente, mais um post. Esse deve ser o post menos lido da história. Primeiro porque é sobre uma escritora que surpreendentemente não é lida por tanta gente (temos que mudar isso!), segundo porque é domingo que antecede um feriadão enforcado (para o patronato benevolente) e meio mundo está agora fazendo um headbang propício no festival SWU, um festival da galerinha modernete que é a favor das ecobags, que ostenta seus produtinhos da Apple, que curte um flashmob e uma xiboquinha, e vai pra Itu de excursão queimando diesel lá da casa do chapéu pra chegar e pedalar em uma roda-gigante movida a bicicleta ergométrica. Eu acho que esse festival poderia ter sido a coisa mais sensacional dos últimos tempos, mas, como todo festival, tem seus defeitos. No caso, os defeitos são o estacionamento de 100 reais e a presença da banda Los Hermanos. Como diz a minha chefe, “é pra fuder o cu do palhaço”. Mesmo assim, continuemos na nobre missão de resenhar dois livros por semana por aqui.

Como disse ali no nariz-de-cera (de cera ou de praxe?), Rosa Montero — pasmem vocês! — não é tão lida quanto deveria. As buscas pela dona no mister Google também não são lá essas coisas (falando em Google, eu e Michel, o anarco-primitivista descendente direto dos macacos do novo mundo que trabalha comigo, estamos bolando o Jögler, o Google alternativo do Leste Europeu, vai ser maneiro). Gente, vamos ler mais Rosa Montero, a autora é uma das melhores coisas que vieram da Espanha nos últimos tempos no quesito literatura. Claro que essa é só a minha opinião, mas é que acho que, mais do que uma boa narradora, Rosa é uma escritora com bagagem (ruim de ficar falando essas coisas de escritoras mulheres é que neguinho já pensa logo em sacanagem), estudada mesmo, não só uma versadora de mão cheia. E o livro de hoje é justamente uma prova disso. Falemos dele então.

Histórias de Mulheres são, basicamente, ensaios, ou pequenas biografias de mulheres. Figuras importantes na história selecionadas pela autora, de cujas vidas são destacados pequenos e importantes trechos para tentar traçar um perfil não totalmente justo, mas pontual para seus CQDs. As histórias contadas por elas são incríveis: umas donas bem cruéis, outras bem sofridas, algumas dotadas de uma submissão dolorosa a seus maridos fascistas, outras, castradas pela época em que viveram. Discorramos.

Não há muito de específico que me lembre agora do livro, lido no começo do ano passado, se não me engano. Puxa, deveria ter começado esse blog bem antes, os livros estariam mais frescos na cachola. Mas enfim, lembro-me agora da história das irmãs Brontë, entre as quais a mais famosa era a Emily Brontë, que escreveu o Morro dos Ventos Uivantes, livrinho que tá debaixo do braço de toda fã de Crepúsculo que se preze. As três irmãs morreram muito cedo e assinavam com nomes de homem para poder fazer seu público leitor em uma época machista. Também lembro da Simone de Bouvoir, uma mulher mais nojenta que aquela gordinha do The Gossip, porque era nojenta na alma. Tem também a Hildegart Rodríguez, uma mulher criada para ser um símbolo de revolução sexual, assassinada pela própria mãe, Aurora, antes dos 20 anos. Tem também Zenobia Camprubí, esposa do prêmio Nobel (estamos falando muito dos Nobéis ultimamente nesse blog: Kawabata, Vargas Llosa, García Márquez, etc) Juan Ramón Jiménez, que passou a vida à mercê do marido, escrotasso e esquisito com todo mundo. Aliás, tem uma história muito boa do Jiménez da qual não me lembro muito agora, pois não está no livro, que envolve uma visita indesejada, para a qual Zenobia precisou fazer sala enquanto ele se escondia no quarto fingindo não estar. Até que resolveu fugir usando uma espécie de biombo, caminhando por trás dele, como se ninguém visse um biombo andante cruzando a sala. Quem sabe o Cássio consiga lembrar da história direito.

Rosa MonteroEnfim, são histórias variadas sobre mulheres variadas. Tem Frida Khalo (já chegou para algum amigo que apareceu com uma nova namorada de buço considerável e comentou: “e aí, tá comendo a Frida Khalo?”? Se ainda não fizeram isso, não façam. Estraga as amizades, vão por mim), tem Agatha Christie, a mocinha que era modelo pras esculturas do Rodin, enfim, um leque aí de opções que não são exatamente o calendário de 1997 da Playboy, mas que impressionam pelas histórias de vida, para o bem ou para o mal.

O prefácio também vale muito: um panorama geral da situação da mulher ao longo da história, em diferentes civilizações, faz uma boa entrada para o assunto do livro. E o posfácio trata de falar da predileção dos ingleses pelas biografias, gênero pouco lido na Espanha. A autora cita também sua empatia (ou antipatia) pelas figuras retratadas, enfim, faz aquele “finalmentes” bacana. Geralmente os leitores tendem a pular o posfácio e o prefácio (você é desses?), mas vale a pena se não é uma jogação de confete de algum especialista em literatura. Ah, já falei que a narrativa do livro também é muito tranquila a ponto de agradar até as donas de casa do clube do livro? Então, mérito da Rosa Montero. Rosa pra presidente do clubinho, já!

Essa edição da Editora Agir é muito boa, apesar da capa, que não gosto muito. Um sofá em forma de lábios não é algo que eu considere muito legal, sequer pouco legal, e francamente, odeio essas paradas de “Da mesma autora de ‘A Louca da Casa’”. Tudo bem que é uma chamada comercial, mas acho que isso deveria vir em cintas ou de outra forma que você pudesse jogar fora depois, acho extremamente constrangedor. É muito querer rebaixar o sujeito a um trabalho. Ou você queria que a novíssima vigésima coletânea do Chico Buarque viesse com a tarja: “Incluindo os hits ‘Roda Viva’, ‘Construção’ e ‘Geni e o Zepelin’” ou com o aviso “Do mesmo compositor de ‘Noites de Gala, Samba na Rua’, tema do personagem de Marcos Pasquim na novela Cubanacan”? Não, né? Pois é, o mesmo rola aqui. Ah, e colocar citação de resenha da Revista Cláudia não é exatamente um bom marketing, ok? Principalmente com os dizeres “As mulheres elegeram Rosa Montero a autora do momento. Ela é tão envolvente e sincera na escrita que faz qualquer um se sentir seu amigo íntimo”. Vontade de soltar um palavrão ao ler isso, mas vou me segurar. Sei que o leitor experimentado que ler uma porcaria dessas num livro corre como se não houvesse o amanhã. Mas, acreditem, embora as leitoras de Cláudia leiam Rosa Montero (duvido muito disso, aliás), a escritora é excelente. No mais, papel pólen fundamental e fonte Minion. Um cabeço é necessário em qualquer livro de contos ou ensaios, ponto pra eles. E por hoje é isso.

Ah, ainda dá tempo de mandar a foto da sua estante para bloglivrada@gmail.com Manda aí, vai ser maneiro!

Comentário final: 223 páginas pólen soft. Se bater em mulher, Maria da Penha no seu rabo, mané!

 

Ashley Kahn – Kind of Blue: a história da obra prima de Miles Davis (Kind of Blue: The Making of the Miles Davis Masterpiece)

Kind of BlueBom dia, todo mundo. Domingo glorioso esse, minha gente. Ganhei um irmãozinho na sexta feira, ele chama Theo e é cheio de personalidade. Vamos deixar esse post em homenagem a ele, e a internet há de preservá-lo para quando o garotão souber ler, saber o que o irmão com idade de tio escreveu quando ele era ainda um pequeno pacote de gente. Sem mais babações, vamos aos trabalhos.

Escolhi o livro de hoje oportunamente para pedir uma ajuda de vocês: rapazotes e raparigas (no bom sentido), vocês tem algum disco bom de jazz para me indicar que eu ainda não tenha escutado? Algo levinho, instrumental, matematicamente bem feito? Gosto muito do Bill Evans, mas já estou meio de saco cheio de ouvir todos os discos dele. Então sugiram aí, mas excluam as obviedades tipo Giant Steps, a Love Supreme, Sugar, Double Rainbow, Amsterdam After Dark, Ascenseur pour L’Echafaud, Kind of Blue, etc.

Falando em Kind of Blue, nosso livro de hoje é, aliás, um livraço sobre música. Geralmente passo longe desse gênero de livro, porque a quantidade de música que a mídia joga na nossa cabeça é tanta, que gosto de fazer da literatura um hobby silencioso, sem Meteoros da Paixão e Garotas Radicais. Biografia de guitarrista? Passei. Trajetória do grunge? Tô fora. O rock dos anos 80 em imagens? Vai catar coquinho. Autobiografia da Lady Gaga? Livrada na sua fuça! Chega de tanta música. Vamos desligar o ipod e ler um livro sobre outras coisas, né?

Mas hoje não. Hoje, escolhi o maravilhoso livro do Ashley Kahn (não me lembro direito das aulinhas de ingês da Tia Regina, mas Ashley não é nome de menina?), Kind of Blue: a história da obra-prima de Miles Davis, pelos seguintes motivos: 1- esse disco é uma das poucas unanimidades desse mundo entre as pessoas que entendem alguma patavina de música. 2- esse livro mistura reportagem e ensaio, ponto pra ele, minha gente. 3- Como já dizia o Capitão Nascimento, quem manda aqui sou eu. Então, vamos a ele.

Kind of Blue: a história blábláblá, ô título grande da gota!, é uma pérola para os amantes de um bom vinho e um bom jazz que leem Kant no banheiro e cantam as gatinhas na balada falando “oi, você vem sempre aqui nesse antro pequeno-burguês?”. Mentira, é um livro bom pra todo mundo, mas nos últimos anos o Jazz ficou estigmatizado como gênero de música que as pessoas mais fingem que gostam do que propriamente ouvem, ou seja, som de poser chatão que quer pagar de inteligente ouvindo um gênero que nasceu com a bugrada afro-descendente socialmente marginalizada dos Estados Unidos. Então, falar de Jazz ficou uma coisa perigosa, você pode acabar sendo tomado por um desses homens-bouquet (como bem definiu Xico-Sá em seu maravilhoso livro Chabadabadá).

E é assim, crianças, que vocês enrolam um texto por cinco parágrafos. Aprenderam? Agora é sério gente, o livro é um apanhado breve do jazz na época de Miles Davis, e o que foi importante na sua carreira, e no modo como se fazia e consumia o gênero musical na época para a criação de Kind of Blue, o álbum com as cinco musiquinhas mais espertas que você conhece. A partir daí, o autor conta os bastidores da gravação e da formação e analisa textualmente cada faixa do disco, umas das melhores descrições de músicas que eu já vi.

Ashley KahnO primeiro ponto alto do livro é esse apanhado histórico da época de Miles. O disco foi lançado em 1959, dois anos depois do cláááássico Time Out, do Dave Brubeck e seus miquinhos amestrados, e até hoje se discute qual dos dois foi mais impactante e influente na época. Se bem que é uma discussão meio vazia, tipo saber se foi o Greedo ou o Han Solo quem deu o primeiro tiro naquele boteco de Guerra nas Estrelas. Mesmo assim, o que se sabe é que o Jazz nunca mais foi o mesmo depois dessa época de ouro, e Kind of Blue representou bem isso. Se você não sabe, sente só a escrete que gravou: Miles no trompete, Cannonball Adderley no sax alto, vovô John Coltrane no sax de macho, Wynton Kelly no piano, o master of puppets Bill Evans no piano e na competência, Paul fuckin’ Chambers no baixolão e Jimmy Cobb na bateria. Convenhamos que, com essa galera, não podíamos esperar outro resultado. Claro que isso aconteceu por certas características da personalidade de Miles e outras confluências dos astros. Esse excesso de estrelas juntas, no geral, e principalmente no Brasil, e mais especificamente, no futebol do Brasil, só dá cagada. Fossem todos nascidos no país tropical e sairiam do estúdio com algo parecido com o “vou te pegar (tchá tchá) essa é a galera do avião”.

O segundo ponto importante é essa descrição das músicas que Kahn faz tão bem. Não só serve para fazer aí um transporte de suporte de linguagens, uma sinestesia cabulosa, quanto também para mostrar para os leigos em notação musical e bichos cabeludos semelhantes o quão bem pensadas são essas faixas que gente tapada diz que “é feito na hora”. A genialidade, senhores, pura e descrita em palavras.

Por fim, e é sempre importante dizer, vale o registro. Um disco dessa magnitude não poderia passar sem pelo menos, uma dúzia de livros. Ora, vamos combinar que não faltaram nessa vida livros sobre os Beatles, Jimmy Hendrix e outros sujeitos badalados de um tempo que não volta mais, então por que seria diferente com Miles Davis? Não seria, né? E a literatura sobre jazz é mais vasta do que supomos, o problema é que não chega muita coisa traduzida por aqui. Então, valorizemos e devoremos os livros bons de repórteres competentes que aparecem por aqui.

E o que falar desse projeto da editora Barracuda? É simplesmente sensacional, minha gente. Sim, tem papel offset, sim, a página é meio poluída, sim, é tudo cheio de letras, mas é um livro muito bonito! Essa capa sensacional, as fotos da época no miolo (e são muitas), o cabeço elegantinho, as legendas nas colunas de respiro, é um belo formato para um livro de música. Ah, e o prefácio quem escreve é o Jimmy Cobb, o baterista e o único integrante ainda vivo dessa galera (viram que maneiro é não usar drogas, crianças? Vocês acabam escrevendo um prefácio sobre seus amigos mortos mais famosos que vocês!), que, vá lá, não diz muita coisa, mas, mete aí de novo, vale o registro. E até a próxima!

Comentário final: 254 páginas offset. Em homenagem ao irmãozinho, não vamos bater em ninguém com esse livro hoje!

Albert Camus – O estrangeiro (L’étranger)

Já vi que os leitores deste blog reagem de maneiras diferentes quando um clássico da literatura (tá na tag, sempre digo) é massacrado. Quando meti o malho n’O vermelho e o negro, ninguém fez furor. Talvez concordem, talvez não tenham dado tanta importância ao livro assim. Em compensação, quando falei mal do Som e a Fúria, do Faulkner, recebi o meu primeiro feedback negativo a respeito da proposta do blog. E isso foi só na semana passada. Pois bem, resolvi comentar hoje mais um do time dos canonizados que eu, particularmente, não gostei (e vou dizer o porquê, não se preocupem). E que tarefa difícil essa, principalmente com o Estrangeiro, do Camus, a obra mais pop do sujeito. Provavelmente não vai haver viva alma que concorde comigo. Mas nem por isso vamos ficar nessa espiral de silêncio, não é?

Pois bem, meus queridos: O Estrangeiro, a Xuxa da literatura canonizada: Todo mundo idolatra e, ao mesmo tempo, lá no fundo, a gente sabe que já passou da hora da aposentadoria. Olha, não me faltou gente pra me recomendar esse livro. E gente boa mesmo, que entende da coisa, que não lê qualquer merda. Resolvi testar meu francês e ler no original. Pensei: “Não é possível, tem alguma coisa errada com esse livro”, e aí resolvi relê-lo em português pra saber que diabos tinha de excepcional nessa obrinha que mal para em pé na estante. Ah, tenho ao todo cinco edições desse livro em casa, inclusive uma estranhíssima com um desenho de um cara que parece muito o Ringo Starr na capa (usei posteriormente essa edição como alvo, num sábado à tarde em que eu e meu camarada Pedro Pimentel saímos para dar uns tiros).

Refrescando a memória: O Estrangeiro é um romance de tese, o que, por si só, já é uma ideia tonta. Escrever um romance pra tentar provar alguma coisa já mostra que você tá numa vibe muito errada.  Mersault (esse nome deve ser o equivalente a Glêdson Rodrigues na Argélia) é um argeliano blasé que não se impressiona com nada. Um dia, o sol tá incomodando ele e aí ele resolve matar um árabe que tava na praia. Ele é condenado a morte, por ser considerado um cara frio e calculista (tipo um BBB), porque não chorou quando a mãe dele morreu. E aí ele morre. Fim da história. Narrei essa sinopse com essa emoção toda porque é justamente desse jeito que o livro é escrito. O Estrangeiro é a prova de que um excelente enredo pode ser arruinado pela falta de estilo (mesmo que proposital). E estilo, meus amigos, é uma coisa que Camus não viu nem quando visitou a fábrica da Fiat. Na ânsia de tentar passar um clima de poucas emoções na vida do cara (que narra em primeira pessoa), o autor quase mata a gente de sono. Se liga no primeiro parágrafo, que é bem famosinho, por sinal:

“Hoje mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei. Recebi um telegrama do asilo: ‘Mãe morta. Enterro amanhã. Sinceros sentimentos.’ Isso não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.”

Tudo bem que o objetivo do autor era mostrar um cara que não demonstra maiores sentimentos pela mãe ou pela vida, mas isso significava não ter sentimento pela escrita? Pouco provável, afinal, fosse assim e ele estaria escrevendo para quê, se não tem ninguém obrigando? “Eu fui na casa da minha amiga. Eu comi bolo. Eu bebi guaraná. Ela comeu também.” Na moral, minhas redações de segunda série eram mais ou menos assim. A tia da aula de redação insiste pra gente articular as frases, usar vírgulas, adversativas e o escambau, e esse cara me faz um livro que mais parece uma lista de supermercado que vende palavras (cinema nacional, pati patapá). Isso é revolta escolar reprimida?

E a tese? Meursault não foi condenado por matar o árabe, por colocar a culpa no sol ou por ter um nome feio de dar dó, mas sim por não ter chorado no enterro da mãe, provando através de tais circunstâncias que o luto é preciso, o blasé não tá com nada e, por conseguinte, todo francês metido a besta merece a morte. Com efeito, não fosse o sujeito preso e morto ao final, seria preciso que me escrevessem na história pra encher ele de sopapo de tanta raiva que dá o jeito como ele fala as coisas. Meursault fica lá paradão na dele analisando e julgando todo mundo e se achando o gostoso por não ser afetado por nada que o rodeia. Do tipo: “Aí a moça veio. Ela me beijou. Eu senti mais ou menos. Ela começou a chupar meu pinto. Eu meio que gostei. Ela tava com uma cara estranha.” Por aí vai. Pra não dizer que o livro é inteiramente ruim, ele começa a ficar bom nas últimas duas páginas quando, à beira da morte, Mersault resolve acordar pra vida e ficar revoltado. Nas últimas duas, veja bem. Ou seja: o livro só não é mais chato porque não é maior.

Meu palpite do porquê as pessoas gostarem tanto do Estrangeiro são: a) o livro tem um estilo tão simplório que qualquer animal consegue ler sem maiores dificuldades e acrescentar à estante um livro que não seja Harry Potter, Bukowski, ou a biografia da Bruna Surfistinha. b) O The Cure fez uma música — horrível como o livro, por sinal — sobre a história de Mersault, e neguinho não consegue assimilar cultura nenhuma a não ser que um popstar diga que é bom (Frida Kahlo está aí graças à Madonna, afinal de contas). c) Jean-Paul Sartre falou que o livro é bom e o mundo inteiro fez “béééééééé”, porque se você discorda do Sartre, coitado de você. d) Camus é um prêmio Nobel, e, como tal, tem aquela aura de vaca sagrada em seu entorno. E tudo bem, os outros livros dele podem ser muito diferentes deste, e ele pode escrever bem, afinal de contas. Mas nesse aí ele cagou no pau. Todo bom escritor tem a sua mancha: Saramago tem o Ensaio Sobre a Lucidez, Kafka tem O Castelo, Ítalo Calvino tem o Dia de um Escrutinador, etc. Não é nenhum crime.

A edição da Folio é tão tosca que é melhor comentar a edição da Record. Bom, a Record fez um projeto gráfico xoxo igual ao livro: fonte De Vinnes (sério, nunca usem essa fonte em um livro. É a mesma coisa que escrever a Bíblia em Comic Sans), papel offset e uma foto que ocupa um quarto da capa. E não adianta a Fnac fazer um Box com três livros dele que essa capa não vai ficar mais bonita enquanto você não tiver torado umas quatro serranas.

PS: Desculpem aí, meus amigos fãs de Camus. Vocês não são obrigados a concordar comigo. Pensando melhor agora, vocês são os mesmos que me disseram que Los Hermanos é legal, que disseram pra eu assistir Grey’s Anatomy e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças. Aí, qual é a de vocês?

Comentário final: 126 páginas de papel offset. Não serve pra nada, a não ser pra servir de alvo no estande de tiro improvisado no terreno baldio.

Abbie Hoffman – Steal This Book

E aí, meus queridos! Antes da gente começar os trabalhos de hoje, uma rápida pesquisa de opinião: o que vocês acham de abrir o espaço aqui para vocês, leitores, resenharem alguns livros ocasionalmente? Afinal, isso aqui é uma brincadeira e, até que se prove o contrário, todo mundo pode brincar. Digam aí o que vocês acham…

Pois muito bem. O livro de hoje é um clássico da literatura (tá na tag), mas não pelo valor literário (e manual tem lá valor literário?), mas pela geração e pelo movimento que ele representou. Sim, chegou a vez de Steal This Book, do lendário Abbie Hoffman! Pra quem não sabe, Abbie era um militante político e um dos criadores do chamado movimento Yippie, que é mais ou menos como o movimento hippie, só que com propensão a fazer paradas radicais, como coquetéis molotovs e envenenamento das fontes de água. A verdade é que ele era loução. Diagnosticado como bipolar, a doença da moda e queridinha das novelas e do mundo da música norte-americana, ele participou ativamente nos protestos e atentados da década de 70, em especial durante a guerra do Vietnã, o Brasil X Itália de 82 lá dos Estados Unidos. Morreu em 89, enchendo a cara de boleta, suicida safado. Antes disso, porém, escreveu este livro, um manual da resistência Yippie.

Steal this book é, basicamente, um guia da malandragem americana — o que, como deve ser fácil de supor, não é nada malandra. Gringo não manja de falcatruas e pequenos golpes. É por isso que o nome da parada não é “jeitinho americano”. O livro é dividido em três partes, após um breve e incrivelmente coeso manifesto, ainda que pouco pé-no-chão.

“Survive!”, a primeira parte, dá dicas de como conseguir dinheiro, móveis, roupas, comidas, transporte e outras coisas de graça, e até como comprar, vender e plantar sua própria maconha (com ilustrações ensinando a enrolar o cigarrinho do capeta e tudo!). Claro que tudo ali é adaptado à realidade estadunidense da década de 70. Então dicas como “ofereça seu corpo para estudos médicos após a sua morte e você receberá 25 dólares após fazerem uma pequena tatuagem no seu dedão do pé” e “pegue carona nesses pontos aqui” hoje em dia não valem de mais nada. Ainda bem, eu acho.

“Fight!”, logo em seguida, ensina técnicas básicas de luta corporal (inclusive o invencível chute no saco), luta com armas brancas, fabricação de todo tipo de bombas e timers, imprensas clandestinas, rádios piratas (com ilustrações), roubo de lojas (a chamada mão leve), primeiros socorros para os amigos que caem e algumas pílulas de direito estadunidense pra você, cabeludo maluco, poder berrar “Eu conheço meus direitos!” quando o sargento Peçanha te meter o big stick. Alguns tópicos descritos nessa parte são ainda válidos para a sociedade de hoje, e inspiraram outros livros semelhantes, como o Anarchist Cookbook, talvez o primeiro e-book de todos os tempos. Fala sério hein, se você tinha acesso a internet com 16 anos, você leu esse livro.

A última parte, intitulada “Liberate!”, é a menor de todas, e seus quatro capítulos, Fuck New York, Fuck Chicago, Fuck Los Angeles e Fuck San Francisco, dão dicas específicas sobre os tópicos de “Survive!” em cada uma dessas cidades, além da programação cultural, os buracos quentes de música e poesia underground. Meio sem graça se você não conhece os Estados Unidos, como eu. E nada é aproveitável hoje em dia. “Tem um poeta chamado fulano de tal nessa esquina”. Vai nessa, amigo, você vai encontrar no mínimo um McDonald’s.

As ilustrações e fotos do livro são um capítulo a parte. Cartuns e quadrinhos do Gilbert Shelton, pai dos Fabulous Furry Freak Brothers, que de repente TODO MUNDO conhece, só porque o cara vai estar na Flip, ora essa (aliás,  e o Lou Reed na Flip, hein? Precedente perigoso pra transformar a bagaça numa espécie de bienal do livro. Zero de literatura); fotos do próprio Abbie Hoffman e sua gangue, simulando algumas de suas dicas; e ilustrações para ensinar algumas das coisas mais complicadas no livro. Não se pode esquecer que ele foi escrito para este povo inteligente que é o norte-americano, em especial, o norte-americano adolescente hippie e drogado até as orelhas. Pensando bem, me admira que o livro tenha letras.

Encomendei esse livro da amiga Manuela que foi visitar os esteites, e já esperava algo meio thrash. Publicação de livro nos Estados Unidos é de chorar mesmo. Pólen Soft? Chamois Fine? Mesmo o horroroso Offset você vai ter dificuldade em encontrar. Lá, amigão, ou é papel de bíblia ou é papel de jornal, você escolhe. Nesse caso, papel jornal, aquele que começa a apresentar manchas após cinco meses na estante e te dá uma rinite gostosa pra ficar espirrando o resto do dia. Uma tal de editora Thunder’s Mouth Press publicou a obra. Aliás, chamar de editora é elogio. Nem a própria Martin Claret teria a sagacidade de fazer algo tão capenga. E impresso no Canadá, ainda por cima. Na certa, uma sweatshop de livros, se é que existe uma. Uma fonte horrorosa que eu não sei qual é e uma capa minimalista que a gente não sabe se é um projeto gráfico elaboradíssimo ou preguicite aguda. Ainda assim, vale pelo registro de ter um livro importante como esse na estante. Acho que aqui no Brasil ele não existe pra vender, então, se quiserem passar os olhos por um, já sabem.

Comentário final: 318 páginas de jornal. O som que faz quando você bate em alguém com ele é “Puf!”.

Milan Kundera – A Ignorância (L’Ignorance)

E aí, meus queridos, como vocês estão? Já superaram a derrota do Brasil na Copa do Mundo ou não? Já estão conseguindo tomar suco de laranja, calçar um tamanquinho sem chorar, ir pra marcha da maconha sem pensar naquele país baixo (de baixeza) que já está vivendo no futuro faz tempo? Quem precisa da Holanda, não é mesmo? E, se serve de consolo, pensem que vocês, caros leitores, foram privilegiados com um alfabeto de 26 letras diferentes, enquanto o alfabeto de lá é igual o seu álbum da copa: cheio de figurinha repetida. Só tem A E E E E J J J J L K K K K V V V O N N N T e acabou. Agora enxugue essas lágrimas e torça para o próximo técnico montar uma seleção com mais moleques e menos caveiras, meu capitão.

Em homenagem ao herói dessa copa, Felipe Melo (que, junto dos vilões das outras copas, como Ronaldo em 98 e Roberto Carlos em 2006, há de se reunir com os da sua laia no Corinthians), o livro de hoje tem um nome sugestivo: A Ignorância, do velho tcheco metido a rapazote Milan Kundera. Sim, o cara é da República Tcheca, aquele país que até hoje só conseguiu exportar escritores orelhudos e atrizes pornôs. Mas também, amigo, com aquele visu alucinante de Praga, quem iria querer trabalhar?

Milan Kundera, para quem precisa ter a memória refrescada, é o autor de A Insustentável Leveza do Ser, um dos livros favoritos das patricinhas metidas a inteligentes. Juro que não me entra na cabeça como garotinhas cujo filme favorito é Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças podem entender o que Kundera escreve. Tudo bem que ele é considerado um escritor lúdico (na linguagem acadêmica, literatura lúdica quer dizer “bobeirinhas”, e não venham me corrigir nessa), mas ele tem alguns pontos — pelo menos cinco em cada livro — onde ele se debruça em pensamentos profundos e cuja referência cultural exige muito do leitor. Talvez a garotada leia pelas frases e pensamentos de efeito, afinal, e não pela história toda, mais ou menos como acontece com o Oscar Wilde.

A Ignorância é o último romance publicado pelo autor. Um livrinho muito mixuruca perto da obra dele, com pouquíssimas páginas, então dá pra encarar sem medo, ok? Fala de dois sujeitos, um homem e uma moça, que, depois de um tempão no exílio, cada um no seu canto, se reencontram por acaso no país natal. Eles tinham começado uma relação amorosa quando eram jovenzinhos, mas, tentando reatar, descobrem que as lembranças de cada um daquela época são meio diferentes, e aí se desenrola umas paradas sinistronas que só lendo pra saber, afinal, não sou escroto a esse ponto.

Acho que, mais do que tratar a questão da relevância da memória na nossa vida, o livro dá uma pincelada boa no que é o exílio, baseado mesmo na sua experiência. Ele, que vive na França hoje, considerado cidadão francês (não viu que o título original do livro tá fazendo biquinho pra você?), é um cara desses sem pátria, ou, pelo menos, sem o conceito de pátria que nós, pessoas normais que crescemos sem essas mordomias de “tchau, vou morar na França agora” temos. Tudo bem o cara começar a falar outra língua, mas deixar de escrever na língua mãe é assinar atestado de clandestinooooo (bateu saudade de ouvir Manu Chao, malandro?). É inclusive um mal do escritor tcheco, não escrever em tcheco pra sempre. Acho que é uma dessas coisas que acontece quando você mora num país do tamanho de um ovo e o resto do mundo não entende seus acentos circunflexos de cabeça pra baixo, nem o que eles estão fazendo em cima de letras inocentes como o S. Tem que facilitar o caminho da sua literatura pro mundo, bicho. Pensa nisso.

E, como bons exilados, querem fazer bonito ante os conterrâneos que permaneceram na terrinha. Grande sacada essa que tem no livro. Acredita-se tanto na experiência de vivência que nêgo que viaja começa a se achar muito mais esperto do que quem fica. Quem já viu aquele filmeco da Lisbela e o Prisioneiro há de lembrar do cearense que foi pro Rio e voltou todo metido, falando chiado. Memorável é a cena, em A Ignorância, que a fulana chega lá pros amigos tchecos e fala “e aí, vamos beber um vinho?”. Justo pra quem senão o maior bebedor de cerveja da face da terra! Vai ser jeca assim no inferno!

Vou dizer: um pecado que a Companhia das Letras não publique os outros livros do Kundera no formato normal. É mó ruim ficar lendo livro pocket, e comprá-los é mais ingrato ainda. Parece que você tem uma biblioteca de anão em casa. Salvo o preço, não vejo vantagem no formato, nem pelo tamanho. Só é uma coisa mais rentável pra editora. Mas essa coleção do autor é muito linda, com umas litografias de nada mais nada menos que Lasar Segall (se você não conhece a peça, saia deste blog agora, vá pesquisar esse nome no Google e depois volte aqui pra pedir desculpas por ter precisado interromper a leitura). Tudo montado pelo genial João Batista da Costa Aguiar, que prepara algumas de minhas capas favoritas da editora. No mais, glorioso papel pólen soft e fonte Sabon, uma fonte que, verdade seja dita, é um pouco antiquada para os dias de hoje. Tá valendo mesmo assim.

NEWSFLASH! Galera, agora o Livrada! tem um twitter! Sigam @bloglivrada e acompanhem as novidades, já que vocês cismam em não assinar o RSS (tem exceções). Vou procurar adicionar informações importantes ou não sempre que possível, ok?

Comentário final: 156 páginas em pólen soft. Machuca o viadinho que usa Gillete Mach 3 para um barbear macio e delicado pra você, mocinha delicada.

Leo Frobenius e Douglas C. Fox – A Gênese Africana (African Genesis – Folk Tales and Myths of Africa)

Em época de Copa do Mundo, nada existe e nada funciona de verdade, certo? Errado, campeão. Continuamos com a obstinada missão de comentar e trazer ao conhecimento do público livros da boa literatura, sem necessariamente recair em maneirismos críticos.

Vou ser sincero: Escolhi aleatoriamente um livro na minha estante. Calhou de ser esse. Tem culpa eu se a Copa do Mundo está rolando na África e nós aqui estamos falando de cultura africana? Tenho nada a ver com isso não, hein? Esse blog é isento de dinheiro, bom senso e não mama nas tendências desse mundo fashionista, moro? O livro em questão é A gênese africana – Contos, mitos e lendas da África, escrito por Leo Frobenius (já falo dele) e organizado por Douglas C. Fox (não vou falar nada dele, nunca ouvi falar nesse gajo). O livro busca, como diz o título, realizar um apanhado de lendas e mitos formadores da cultura africana em seu primórdio, ou seja, ver o que esse povo pensava quando não estavam preocupados pensando em comida (ô, maldade!).

Leo Frobenius — agora sim, vamos lá — é uma figuraça, como vocês podem ver nessa foto biíta dele. Antropólogo e etnólogo alemão (por isso, além de encaixar em literatura africana, também vai ganhar a tag de literatura alemã, para estrear a categoria), percorreu, no começo do século XX, as grandes savanas e desertos africanos em expedições dignas de um Indiana Jones comedor de chucrute para resgatar a origem das tradições de alguns dos principais povos de lá, em especial os cabilas, povo que morava onde hoje é a Argélia. Mas além disso, cavucou alguns mitos soniqueses, fulas, mandeses, nupes e hauçás (sim, hauçás, aquele povo zangado da Nigéria). Ah, e rodesianos do sul também, onde hoje é o Zimbábue. Sabe aquele povo que fala estalando os dentes? Pois é. Baseado nisso, fez um dos maiores compêndios sobre mitos africanos já reunidos, que depois deu origem a uma infinidade de livros charlatães que se propuseram a fazer o mesmo com outras civilizações, dignando-se a reescrever as lendas com algumas variações. Duvida que exista gente tão pilantra nesse mundo? Teste rápido para os folcloristas: já ouviram aquela lenda do crânio falante, que faz o guerreiro iludido trazer o rei para vê-lo e, diante da mudeza súbita da caveira, resolve matá-lo? Pois é, amigo, é uma lenda nupe, sim senhor, e você passou a vida achando que era angolana, ibo, até mesmo dos escravos brasileiros que vieram de Angola. Inclusive virou uma novelinha daquele “Casos e Causos” da Revista RPC. Pra quem não sabe o que é Revista RPC, considere-se afortunado.

O grosso do livro, realmente, é o material cabila coletado por Frobenius. Muito legal ver que a ideia que eles tem do gênesis, além de ser muito diferente da Bíblia (mantendo-se alguns aspectos como o do primeiro pai e primeira mãe), não fazem o menor sentido. Anacronicamente, é muita falta de noção desse povo, hein? Mas também, amigo, queria o quê? Poesia homérica nascendo ali no meio do pessoal que vive correndo de leão? Salmo 23 escrito por um negão entre uma matada de mosquito e outra? Você sabe que não rola. Ainda assim, vale a leitura se você conseguir sacar como essa tigrada pensava no começo da raça humana. Vou dizer: não é muito diferente de um sonho ou uma bad trip. E os mitos e fábulas deles são engraçadíssimos porque, além de não fazer o menor sentido, como já disse, também não tem aquela preocupação de moral da história que fez tão famosa a literatura xinfrim européia (européia ainda tem acento? Ajudem aí, linguistas, tô sem a gramática por perto). Pérolas do tipo: A raposa queria comer uma galinha. Aí o leão disse: ‘vai lá e se finge de galinha’. Aí vem um cara e mata o leão. Inevitável aquela cara de “what the fuck?” nessas horas.

E vamos ao projeto gráfico do livro. Olha, pra uma editora mais lado B como essa Landy Editora, esse livro está bem decente. Tem um prefácio do Alberto da Costa e Silva, que eu não conheço e já não gosto (nada pessoal, Sr. Costa e Silva, mas, além do seu sobrenome nada amigável, o senhor é imortal da ABL e, até vocês me chamarem pro grupinho, tô torcendo contra, hein?) Apesar do maldito papel offset, a fonte não é das piores e o cabeço é, pelo menos criativos. Ah, e não faltam ilustrações bonitas e toscas, feitas por uma tal de Kate Marr, funcionária do Forschungsinstitut für Kulturmorphologie in Frankfurt-am-Main (quer saber o que é isso? Faça como eu e comece a frequentar as aulas de alemão). Além disso, alguns retratos desenhados durante as expedições, feitos para você saber que seu senso de beleza e estética está completamente engessado por modelos magrelas, branquelas, que são só titela (pra rimar). Uma capa bacaninha, como vocês podem ver, e folhas de respiro no começo e no final do livro todas pretas e em papel cartão, pra ficar mais tchananã. Ah, e por incrível que pareça, não é difícil achar esse livro. Só não lembro ainda por que foi que eu o li. Tinha uns 16 ou 17 anos na primeira lida. Bom, nem Deus sabe o que passa na cabeça da gente quando a gente é adolescente, né verdade?

Comentário final: 238 páginas compridas em offset. SHHHHPAW!!!

Michel Houellebecq – Extensão do domínio da luta (Extension du domaine de la lutte)

Issa! Mais um domingo de crítica literária totalmente isenta de embasamento e arrogância! E, olha só, falando em arrogância e falta de embasamento, olha o livro de hoje: Extensão do domínio da luta, do francês boiolinha favorito de todos, Michel Houellebecq.

Esse título é um negócio, é ou não é? “E aí, o que você está lendo?” “ah, nada demais, só ‘Extensão do domínio da luta’ do Michel Houellecq…” “Cacete, como você é inteligente!” Sentiu a MORAL do cara que lê um livro desses? Então pode esquecer agora, porque esse título é só pra pegar otário. Sabe o que esse rapazote queria dizer com esse título? Vamos explicar pra você. (Tô me sentindo muito aquele cara do Larica Total que diz “Olha minha cara… Vê se eu não tenho cara de uma pessoa que vai te ajudar?”)

A história é o seguinte: Um sujeito que não come ninguém (isso, tipo o autor), chamado no livro de “nosso herói” (rá rá rá, se achou, hein, Houellebecq? Você não é herói nem de gato magro de mendigo que sobe na árvore), trabalha num trabalho chatão de programador de computador para o ministério da agricultura (se bem me lembro). O sujeito fica lá nas punhetas — mentais ou não — enquanto se toca que é um merdão. Pra sorte dele, ‘nosso herói’ arruma um amigo que consegue ser pior do que ele: um merdão-mór, virgem de vinte e oito anos, que admira o protagonista por ele ser capaz de ter um relacionamento em algum momento da vida dele. Aí, tudo o que eles fazem é para provar que eles são merdões: vão comprar cama de solteiro, um atestado de que você nunca mais vai comer ninguém, saem para dançar, etc etc. Em dado momento, o sujeito se convence que, entre a vasta luta das relações humanas, sejam elas de gênero, classe social ou etnia, a sexualidade é uma forma de poder. Isso, algo que qualquer criança na sexta série que descobre que beleza interior é um conceito altamente falacioso consegue perceber. Por isso, a sexualidade é a ‘extensão do domínio da luta’, sacou? Olha só, hein, tô te ajudando!

Mesmo que você já tenha percebido que beleza põe mesa, Extensão do domínio da luta é um livro muito bem escrito e necessário, seja pela diversão, seja pelas ideias contundentes e, para usar uma palavra que eu ainda não usei, necessárias (d’oh!) nesse mundo Emo que a gente vive. Quando o amigo Cássio (que, de tanto aparecer nesse blog, já virou uma espécie de entidade digna de um compadre meu Quelemén) leu Plataforma, do mesmo autor, fez uma comparação que me pareceu muito boa: de um lado, aquele mundo feliz e bamboocha do filme ‘O Albergue Espanhol’ (alguém já viu esse lixo?), todo mundo dando a mão e dizendo “nós somos um só” e outras coisas igualmente nauseantes; do outro, as ideias pé-no-chão do Houellebecq, um sujeito que sabe bem do que ele está escrevendo. Quer dizer, olha só pra cara dele. Olha essa cara de criança que apanhou demais na escola, que tomava Yakult no recreio, que comprava Fandangos só para pegar o Tazo e jogava o biscoito fora, que foi o primeiro da turma ter um Nintendo 64, que fez amizade com a monitora do colégio (e só com ela). Sumite materiam vestris qui scribitis aequam viribus, já dizia Horácio, aquele simpático dinossaurinho. Em latim (uma lígua morta que morreu quando os dinossauros foram extintos) quer dizer “você aí que tá escrevendo, vê lá se não vai falar merda hein? Escreve sobre um troço que você conheça”. Então amigo, se o Michel Houellebecq quer escrever sobre um cara que não come ninguém, é bom todo mundo parar pra ler, porque o cara tá fazendo pesquisa de campo desde que Biafra tocava no rádio.

Agora vamos falar desse projeto gráfico da maravilhosa Editora Sulina, afinal, se não fosse ela e as maracutaias de programas de incentivo a cultura, embaixada da França no Brasil, patati patatá, essa pérola da literatura francesa não ia chegar às nossas mãos. Infelizmente, esse projeto gráfico ficou muito aquém da editora e do livro. Sério, não tem nada que se salve! NADA! Fonte horrível (sério, já viu Garamond ficar ruim em algum lugar? Só vi nesse livro!), papel mais horrível ainda, capa que mais parece disco do Radiohead, quarta capa vergonhosa com uma foto ridícula do autor e um cachorrinho com a frase “Um romance de aprendizagem: a aprendizagem do desgosto”. Fala sério, né? Desgosto tenho EU quando leio uma porra dessas! Colocaram o código de barras do livro exatamente embaixo dos pés do autor, parece que ele tá num pódio com um ISBN inscrito. E a frase escrita dentro da silhueta dele, que… argh! Sei que reclamando assim tô parecendo mais aquela bruaca do Diabo Veste Prada, mas puta que pariu, vai fazer um livro feio desses lá Martin Claret! E você já viu ficha técnica de livro que não tem nem o título do livro no original? Rá, surpresa pra você que comprar um exemplar desses. Tá certo que o que importa é o conteúdo, mas se fosse assim, para quê se incomodar? Bota um espiral de xerox de esquina e pronto, né? E a orelha do livro? Caralho, algum dia vou transcrever aqui as orelhas de livros mais exultantes que existem pra vocês votarem na mais jogadora de confete. O Juremir, tradutor do Houellebecq, um cara fodão mesmo, gasta linhas e linhas numas loas e boas que se esquece de fazer a sinopse do livro. Seguindo a linha dos Tumblrs: PORRA, Juremir!

Comentário final: 142 páginas embrulhadas numa capa vergonhosa. Inutilizável até pra dar umas porradas em alguém.

Ruy Castro – Carnaval no fogo

Começo essa semana com um livro que acabei de ler. Não se assustem, criançada, eu não leio um livro por dia, mesmo porque não posso. Até então, tudo o que vocês leram nesse blog foi fruto de leituras pretéritas e uma relativa boa memória para livros que eu tenho graças a minha alimentação balanceada (tudo faz peso na balança) e minha abstenção do Gelol da Alma, o álcool (a benção, André Dahmer). Mas o livro de hoje, que ficou muito tempo figurado ali embaixo, no cantinho inferior direito, onde diz “Estou lendo”, finalmente foi concluído e está pronto para meu comentário nada abalizado, ainda mais em se tratando de Ruy Castro, um cara, que, pelo que eu ouvi, não gosta de nós, morlocks da imprensa. Então fica combinada a regra: enquanto não termino de ler o livro que está descrito ali embaixo, vou colocando outros que já li aqui, e assim que terminar algum, corro para a resenha do dia, ok?

Se Ruy Castro tem um talento visível aos olhos, é o de fazer o leitor se interessar pelos seus temas, mesmo que o tema em questão ainda não seja do interesse de alguém. Não me admiraria se houvesse, por exemplo, mais gente que leu o Anjo Pornográfico do que leitores assíduos de Nelson Rodrigues. Ou ainda, leitores que devoraram o seu Chega de Saudade e torcem a cara quando uma bossa nova qualquer toca no elevador de algum prédio chique. E com certeza há mais gente que leu Carmen do que gente que já viu algum filme da gaja mais brasileira aos olhos de Hollywood.

Sua fluidez de narrativa não é diferente em Carnaval no Fogo – crônica de uma cidade excitante demais, publicado pela Companhia das Letras e parte da coleção O escritor e a cidade, uma dessas coleções que eventualmente as editoras fazem para atacar o mercado com a força de quatro ou cinco escritores. No caso, mais três além de Castro: David Leavitt, que escreveu sobre Florença; Edmund White, sobre Paris e Peter Carey, sobre Sidney. Carnaval no Fogo é uma extensa crônica sobre a cidade do Rio de Janeiro, as particularidades e a história dos principais bairros e histórias curiosas sobre seus habitantes. Foi um dos vários livros que li sob a recomendação do José Carlos Fernandes, jornalista da Gazeta do Povo que, entre nós, ganhou a alcunha de o Gay Talese brasileiro. E ó, vale a pena, hein?

Ruy Castro, com esse livro, pode ser considerado talvez o primeiro escritor sustentável que já existiu. Não sustentável no sentido de que o papel do livro foi impresso em papel higiênico usado ou outras maluquices ecológicas, mas sustentável em seu tema. Ora, o sujeito passou a vida inteira falando de Carmen Miranda, Garrincha, Nelson Rodrigues, Bossa Nova e o caralho a quatro mais que tiver passado pelo Rio de Janeiro. Que mal tem então pegar todo o rebotalho dessas pesquisas, dar uma recauchutada em tudo e lançar um livro cujo personagem maior é o pano de fundo de todos seus outros livros? E, ao contrário da sobra da pasta de coca que vira merla e crack, o Carnaval no fogo não tem sua qualidade prejudicada por essa reciclagem de informação. Pelo contrário: a quantidade de informação do livro é tão grande que talvez seja a crônica mais bem escrita sobre uma cidade e seus personagens históricos. Parece que Ruy viveu esses anos todos no Rio e ficou só olhando quinhentos anos de história para escrever essa pequena obra. Na verdade, tem horas que ele exagera — o leitor ideal dele nesse caso teria que, além de ficar de falcão na história brasileira, obter conhecimento de mundo referente à história da Europa e das navegações de uma maneira geral. Então cuidado se você for um desses que se perde em meio a muitos nomes e datas, o Carnaval no fogo pode foder sua cabeça bonito! Mas calma, muito provavelmente é só impressão minha. Acho que, às vezes, ele só usa algumas referências obscuras pra não perder o ritmo e não pecar por falta de adjetivação. Com seus leitores, Castro não se incomoda se alguns são burros. Com os jornalistas, entretanto e já dissemos, parece que a banda toca diferente…

A edição da Companhia das letras é simpática, então palmas para o Raul Loureiro, seu idealizador. Com ilustrações de traço livre de Felipe Jardim, papel pólen soft de praxe e fonte Filosofia, uma fonte com as serifas redondinhas. Achei irada. E o melhor: encadernação e acabamento em capa dura, que, pelo preço dos livros hoje em dia, devia ser praxe também.

Comentário final: 254 páginas pólen soft com capa dura. Bom pra quando você não acha o martelo…