Ruy Castro – Carnaval no fogo

Começo essa semana com um livro que acabei de ler. Não se assustem, criançada, eu não leio um livro por dia, mesmo porque não posso. Até então, tudo o que vocês leram nesse blog foi fruto de leituras pretéritas e uma relativa boa memória para livros que eu tenho graças a minha alimentação balanceada (tudo faz peso na balança) e minha abstenção do Gelol da Alma, o álcool (a benção, André Dahmer). Mas o livro de hoje, que ficou muito tempo figurado ali embaixo, no cantinho inferior direito, onde diz “Estou lendo”, finalmente foi concluído e está pronto para meu comentário nada abalizado, ainda mais em se tratando de Ruy Castro, um cara, que, pelo que eu ouvi, não gosta de nós, morlocks da imprensa. Então fica combinada a regra: enquanto não termino de ler o livro que está descrito ali embaixo, vou colocando outros que já li aqui, e assim que terminar algum, corro para a resenha do dia, ok?

Se Ruy Castro tem um talento visível aos olhos, é o de fazer o leitor se interessar pelos seus temas, mesmo que o tema em questão ainda não seja do interesse de alguém. Não me admiraria se houvesse, por exemplo, mais gente que leu o Anjo Pornográfico do que leitores assíduos de Nelson Rodrigues. Ou ainda, leitores que devoraram o seu Chega de Saudade e torcem a cara quando uma bossa nova qualquer toca no elevador de algum prédio chique. E com certeza há mais gente que leu Carmen do que gente que já viu algum filme da gaja mais brasileira aos olhos de Hollywood.

Sua fluidez de narrativa não é diferente em Carnaval no Fogo – crônica de uma cidade excitante demais, publicado pela Companhia das Letras e parte da coleção O escritor e a cidade, uma dessas coleções que eventualmente as editoras fazem para atacar o mercado com a força de quatro ou cinco escritores. No caso, mais três além de Castro: David Leavitt, que escreveu sobre Florença; Edmund White, sobre Paris e Peter Carey, sobre Sidney. Carnaval no Fogo é uma extensa crônica sobre a cidade do Rio de Janeiro, as particularidades e a história dos principais bairros e histórias curiosas sobre seus habitantes. Foi um dos vários livros que li sob a recomendação do José Carlos Fernandes, jornalista da Gazeta do Povo que, entre nós, ganhou a alcunha de o Gay Talese brasileiro. E ó, vale a pena, hein?

Ruy Castro, com esse livro, pode ser considerado talvez o primeiro escritor sustentável que já existiu. Não sustentável no sentido de que o papel do livro foi impresso em papel higiênico usado ou outras maluquices ecológicas, mas sustentável em seu tema. Ora, o sujeito passou a vida inteira falando de Carmen Miranda, Garrincha, Nelson Rodrigues, Bossa Nova e o caralho a quatro mais que tiver passado pelo Rio de Janeiro. Que mal tem então pegar todo o rebotalho dessas pesquisas, dar uma recauchutada em tudo e lançar um livro cujo personagem maior é o pano de fundo de todos seus outros livros? E, ao contrário da sobra da pasta de coca que vira merla e crack, o Carnaval no fogo não tem sua qualidade prejudicada por essa reciclagem de informação. Pelo contrário: a quantidade de informação do livro é tão grande que talvez seja a crônica mais bem escrita sobre uma cidade e seus personagens históricos. Parece que Ruy viveu esses anos todos no Rio e ficou só olhando quinhentos anos de história para escrever essa pequena obra. Na verdade, tem horas que ele exagera — o leitor ideal dele nesse caso teria que, além de ficar de falcão na história brasileira, obter conhecimento de mundo referente à história da Europa e das navegações de uma maneira geral. Então cuidado se você for um desses que se perde em meio a muitos nomes e datas, o Carnaval no fogo pode foder sua cabeça bonito! Mas calma, muito provavelmente é só impressão minha. Acho que, às vezes, ele só usa algumas referências obscuras pra não perder o ritmo e não pecar por falta de adjetivação. Com seus leitores, Castro não se incomoda se alguns são burros. Com os jornalistas, entretanto e já dissemos, parece que a banda toca diferente…

A edição da Companhia das letras é simpática, então palmas para o Raul Loureiro, seu idealizador. Com ilustrações de traço livre de Felipe Jardim, papel pólen soft de praxe e fonte Filosofia, uma fonte com as serifas redondinhas. Achei irada. E o melhor: encadernação e acabamento em capa dura, que, pelo preço dos livros hoje em dia, devia ser praxe também.

Comentário final: 254 páginas pólen soft com capa dura. Bom pra quando você não acha o martelo…

Rubem Fonseca – Agosto

Sabe que eu li aí num blog de alguém algum dia indicado por outro alguém algum post que falava que o Rubem Fonseca — justo ele, vencedor do Prêmio Camões em 2003 — era um mau escritor, que só usava uns clichês mais clichês que uma porta e que a escrita dele, além de óbvia, era brega. Vou te falar que, embora goste do autor, reconheço que o referido e já esquecido sujeito tem lá seus argumentos, exemplificados com excertos de alguns livros aleatórios. E gosto do Rubem Fonseca, mas não sou nenhum fanático também. Li aí uma meia dúzia de livros e se aparecer mais algum, vou continuar lendo. Mas não está nas minhas prioridades.

Mas enfim, não viemos aqui falar de livros ruins do Rubem Fonseca, viemos falar de AGOSTO (a torcida vibra!!), um de seus maiores e melhores romances, lançado em 1990 e até pouco tempo atrás publicado pela Companhia das Letras e agora publicado pela Agir (embora tenha lido a edição antiga, as tags e as glórias vão para a editora que está com a bola. Mas a foto é sempre da edição que eu tenho). Agosto não só é um excelente romance policial como também uma ficção histórica (que serve de escada como aquele tal de Kiabbo) muito bem detalhada. Tudo se passa na década de 50, na ocasião do suicídio de Getúlio Vargas, mas começa um pouco antes, na verdade: com o infame atentado da Rua Toneleiros, que ocorre pouco depois do assassinato de um ricaço (esse só existe no livro). Aí que um delegado que curte ópera (é o tipo da coisa meio difícil de achar), tá sofrendo das úlceras e com uma mulher enchendo o saco resolve investigar o caso por achar que os envolvidos nas duas ocorrências podem ser a mesma pessoa. A partir daí, ficção e realidade tendem a se cruzar, embora não cheguem a fazê-lo de fato. As histórias seguem em paralelo, mais ou menos como aquele filme O Verão de Sam, do Spike Lee. O enredo te gruda no livro, como o Rubem Fonseca sabe fazer bem, aliás, e sua forma de narrar com aspas ao invés de travessões — que condensa o livro em grandes blocos de texto a cada página — não tira a fluidez com que percorremos suas trezentas e cinquenta páginas (da edição antiga). Um livro inspiradíssimo sem dúvida, e que, enquanto policial, não é de todo vagal pela parte da pesquisa histórica.

As realidades descritas por Rubem Fonseca quase nunca escapam aos clichês dos romances policiais: Mocinhas irritantes, poderosos maus-caráter, delegados que resistem à corrupção, submundo exposto, espionagens e perseguições. São poucos elementos, mas, hey, com três notas foram compostas quase todas as punk rock songs. E nem dá para dizer, entretanto, que Agosto é uma variação sobre o mesmo tema porque, lendo bem direitinho, até que é um policial diferente do resto. Ok, não tão diferente, mas diferente o bastante para merecer o devido destaque. E mesmo assim, já disse, é um livro muito do cativante. Acho que até fizeram uma minissérie na Globo sobre o livro, mas não vi e não sei de nada, portanto, prefiro não comentar. Sintam-se livres para falar sobre a transposição televisiva da obra, entretanto.

E falando um pouco da edição da Agir: porra, palmas para a editora Agir que tá relançando as obras do Rubem Fonseca em um formato agradabilíssimo de ler, com capas criativas e padronizadas, assinatura do autor, uma margem de página grande e confortável, fonte Minion Pro (um abraço pra essa fonte, caralho!) e um acabamento na encadernação que parece que vai durar pra sempre (acho que são brochuras menores, talvez com dezesseis páginas cada, não sei ao certo). E o melhor: o preço tá consideravelmente mais em conta do que a edição antiga, o que só dá alegria pra gente que tem que meter a mão no bolso.

E um PS: esse livro é da Carlinha e foi ela que sugeriu o livro de hoje. Fiquem à vontade para sugerí-los também.

Comentário final: 368 páginas pólen bold 90g/m². Die, die, die!

Cristóvão Tezza – Uma Noite em Curitiba

É bem verdade que vou tratar agora de um livro do escritor Cristóvão Tezza que não é dos mais conhecidos de sua carreira. Uma Noite em Curitiba não é, pesando seu impacto na comunidade literária, nenhum O Fotógrafo, nenhum Trapo e certamente nenhum O Filho Eterno. Mas, dos livros de Tezza que eu conheço, ele é um dos mais originais e mais bem escritos de sua produção da década de 90.

Dizia eu no post anterior sobre o Mario Vargas Llosa que o gênero epistolar pode não ser dos mais agradáveis de se ler. E, como coloquei entre parênteses alguns livros de cartas que eu conhecia, fiquei depois pensando em quais obras mais se aventuraram por esse terreno estéril. E esse livro veio à mente. Resolvi então, escrever sobre ele para exemplificar mais um livro bem sucedido de troca de cartas.

Assim como Pantaleão, Uma Noite em Curitiba também é narrativa misturada. A história é escrita pelo filho de Frederico Rennon, um prestigiado historiador que desaparece após cair na infâmia por se envolver com uma renomada atriz que vem para Curitiba. Através das cartas trocadas entre o velado casal, o narrador tenta reconstituir os últimos passos de seu pai, e tentar entender a estranha e forte influência que sua figura paterna exerce sobre ele.

Esse livro é muito especial pra mim, por duas razões: a primeira, porque eu o ganhei do próprio Tezza, ao final da disciplina optativa que ministrava no curso de Letras da UFPR. A segunda, porque acho que Uma Noite em Curitiba tem a abertura mais emblemática de sua carreira: “Escrevo esse livro por dinheiro”. Logo na primeira frase, Tezza ataca, provavelmente sem perceber, a constante de seus livros: um motivo para escrever. À exceção de O Fotógrafo e outros livros escritos em primeira pessoa, todos, absolutamente todos os livros de sua carreira são justificados de alguma maneira por seus personagens. Pode procurar: Juliano Pavolini, o Fantasma da Infância, Aventuras Provisórias, Trapo, etc. Isso pode ser explicado por algumas hipóteses, como por exemplo, um sentimento de culpa inerente pela profissão de escritor, tema sobre o qual ele fala tanto em livros quanto em crônicas já publicadas. Mas talvez a resposta seja a mais simples: é estranho pra cacete escrever em primeira pessoa. Com o narrador onisciente, ninguém faz perguntas, ele escreve simplesmente porque pode. Mas uma pessoa que narra por um livro inteiro sua própria história, ou vivenciada por outrem, cedo ou tarde precisa de uma explicação. Afinal, o que leva alguém a fazer isso (respondam-me, blogueiros que fazem queridos diários de seus sites)? Essa consciência da narrativa justificada Tezza já possuía desde a década de 80 e vocês ainda procurando uma boa razão para ter um twitter, hein?

Apesar da constante troca de cartas (nas quais os pronomes de tratamento vão evoluindo constantemente em intimidade), Uma Noite em Curitiba é dinâmico pelo alto grau de narrativas, que mesmo as próprias epistolas contêm. E mesmo sendo um livro curto, a experiência proposta pelo autor é muito concreta para quem lê.

O grande problema desse livro é encontrá-lo. Desde que o escritor migrou para a editora Record, seus livros antigos publicados pela Rocco viraram artigos raros nas livrarias. Juliano Pavolini e o Fotógrafo ainda conseguem ser achados nas Livrarias Curitiba da vida. Quem sabe a Record também o republique, como fez com Trapo, Aventuras Provisórias e O Fantasma da Infância. Porque, venhamos e convenhamos, a Rocco é ótima pra encontrar novos escritores, mas peca no projeto editorial. Página de offset (não tem mais graça isso, galera!), uma fonte tenebrosa e um cabeço que EU poderia ter feito no microsoft word. E o que é essa capa? Mil desculpas ao Sr. Carlos Dala Stella, cujo mérito artístico não se discute, mas usar o quadro do senhor deste tamaninho nesse fundo branco gelo ficou uma vergonha. Porque não usaram o quadro inteiro na capa? Ficaria ótimo se fosse assim. A ficha técnica do livro também omite muita informação e está bem desorganizada, mas tem um trunfo: o nome de Elizabeth Lissovsky, a heroína que “preparou os originais” do livro (um eufemismo para “decifrou a escrita de Chico Xavier” do escritor. Brincadeirinha, Tezza, mas uma brincadeirinha com um fundo de verdade). Quase uma tradutora do árabe.

Comentário Final: 171 páginas de pesado offset. Se pegar no saco, dói.

Ruy Tapioca – A República dos Bugres

Vamos botar a mão na consciência e admitir que, em se tratando de literatura brasileira contemporânea, não são muitos os autores novos que se destacam. Por isso mesmo, quando aparece um, é preciso arregaçar as mangas para fazer saber que ainda existe gente que presta na literatura desse país, mesmo que o escritor em questão não seja necessariamente novo. Ruy Tapioca já é um senhor, e iniciou sua carreira de escritor depois de sua aposentadoria. Desde 1999, tem quatro livros publicados. E pergunto: Você já leu ou ouviu falar do gajo?

Pois é justamente sobre A República dos Bugres, seu romance de estreia, que trataremos neste post. O livro foi agraciado com o Prêmio Guimarães Rosa de Literatura , entre outros prêmios igualmente importantes, e é um sucesso somente no meio acadêmico. Foi na faculdade de Letras que o conheci. A querida professora Marilene Weinhardt ministrou sua disciplina de Teoria Literária e Teoria da História baseada neste livro, que é uma ficção histórica de primeira que abrange quase todo o século XIX, e que tem como um de seus protagonistas um suposto filho bastardo de D. João VI que vem para o Brasil junto com a família real em 1808. A mistura entre personagens reais e inventados é perfeita pela escolha dos personagens reais (caricatos demais para terem existido) e pela profundidade de construção dos inventados. Se você ler o livro, tente descobrir quais existiram de verdade. Garanto que terá uma surpresa ou duas.

Não podemos ignorar também o domínio do autor sobre o estilo literário da época do império. A escrita de A República dos Bugres é um show à parte. Também pudera, teve aula de redação com Machado de Assis (Opa, que maldade! Brincadeira, Sr. Tapioca!), que aliás faz ponta no romance. Pra quem curte uma erudição literária, essa obra-prima promete molhar a roupa de baixo de muita gente.

E também há o humor. A República dos Bugres é um livro engraçadíssimo. De gargalhar mesmo, como poucos. Aliás, por se tratar de uma ficção histórica sobre o Brasil que aborda o tema com esse humor e estilo rebuscado, gosto de fazer um paralelo com a portentosa obra Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro. Mas, João Ubaldo que me perdoe, mas A República dos Bugres bate as 700 páginas de Viva o Povo Brasileiro em muitos aspectos.

Com tudo isso, você deve estar pensando: Por que um livro desses não tá na boca de toda livraria do Brasil? Pois é, amigo, também não sei. Publicado pela editora Rocco, que, vamos concordar que não fez um bom trabalho na divulgação desse autor, o livro tem um projeto gráfico meio tosco, embora tenha sido impresso em fonte Minion, que eu acho irada e cuja versão genérica pode ser encontrada para download na internet. Com um papel offset podrão (ô gente, vamos parar com o offset!) e uma capa com uma pintura realista, uma estética que já saiu de moda na publicação de livros há pelo menos 20 anos. Então, ponto positivo pra Rocco, que publicou este que talvez seja o último dos autores de novos clássicos (e quem escreve ficção com mais de 400 páginas hoje em dia?), mas ponto negativo por não caprichar na publicação desse belíssimo livro, um dos melhores, aqui no Brasil, dos últimos trinta anos.

Comentário Final: 532 páginas pesadas de offset podrão. Se tacar na cabeça dá traumatismo.

João Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas

Começo o blog com um livro que já havia comentado na malograda primeira tentativa de um espaço sobre livros. Não poderia começar de outra maneira, afinal de contas, Grande Sertão: Veredas é o meu livro favorito. Ganhei-o de aniversário, em 2008, do grande amigo Cássio Busetto, que tenho em alta conta e cujas indicações literárias sempre são acatadas. Li durante as férias do fim do ano e hoje digo com tranqüilidade que ler este livro é uma das poucas vantagens de ser brasileiro. É preciso ter as raízes bem fixadas na cultura do país.

Para quem sempre dormia na aula de literatura quando a professora entrava nesse assunto, o livro é um grande relato de um jagunço chamado Riobaldo “Tatarana” a um interlocutor oculto. Ele fala de suas aventuras no “sertão das gerais”, um território vasto que abrange parte dos estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás, e de como conheceu e viveu com seu amigo Reinaldo “Diadorim”, um jagunço filho de Joca Ramiro, chefe do bando. Riobaldo, em sua ânsia por poder e sucesso, resolve fazer um pacto com o demônio, mas não sabe se o pacto foi consumado e passa a viver uma tortura psicológica enquanto tem de lidar com as reviravoltas de seu bando e a boiolagem latente que ronda sua amizade com Diadorim. Pronto, eis a sinopse. Se você não sabia do que esse livro falava, vergonha na sua cara, hein?

O problema de falar de um livro desses é que basicamente tudo já foi falado com muito mais categoria e conhecimento. A experiência lingüística é realmente o melhor da obra, e, somado à trama intensa, faz de Grande Sertão: Veredas o melhor livro que eu já li (até o momento, mas acho difícil achar algo melhor).

O leitor já deve ter lido de certos etílicos beatniks coisas como “eu escrevo com a alma, com o coração, com as bolas, com sangue, com porra, com merda” e bla bla blás semelhantes. É tudo mentira. O tal bebum escreve é com palavras e gramática, permeados por talvez algumas gírias e mau gosto. Porém, não seria nenhuma injustiça incorrer na suposição de que se algum autor realmente escreveu com a alma, esse autor foi o Guimarães Rosa. Ao contrário dos outros, Rosa conseguiu romper as correntes da sua escravidão à gramática e à semântica e, dando a volta por cima, tomou os elementos da escrita como seus escravos para conduzir sua literatura por veredas só imaginadas por ele e que nenhuma convenção linguística seria capaz de seguí-la. Não é a toa que o livro dá pano pra manga até os dias de hoje.

PROJETO GRÁFICO

A editora Nova Fronteira, que produziu a versão que eu li (vide imagem), cometeu o pecado de imprimir essa magnânima obra em um papel offset vagabundo. Em outras casas editoriais, o mais imprestável dos escritores é publicado no mínimo em um confortável pólen soft.

E isso não é pecado só com o Guimarães Rosa. As belíssimas ilustrações de nada menos que Poty Lazarotto mereciam ao menos uma capa dura. O número de vítimas aumenta se contarmos a excelente diagramação interna do cabeço (na vertical e alternando os cantos superiores e inferiores). O excelente projeto gráfico tem ainda o poema “Um Chamado João” escrito por Drummond sobre o amigo, com caligrafia do poeta. Tudo isso parcialmente arruinado pelo acabamento.  Não havia necessidade de se economizar tanto, afinal de contas, o livro por si só já é caro e a mesma editora Nova Fronteira possui uma versão “de estudante” que é menor e ainda mais desprovida de charme.

Claro que a versão chique do livro saiu, uma edição comemorativa de 50 anos (em 2006) que custava pelo menos cento e vinte reais e que durou uns três meses por aí (tiragem de dez mil exemplares). Quem viu sabe que era um pitéu, tinha o título bordado com fios soltos, capa dura, marcador de fita, isso sem falar no álbum de imagens e o DVD interativo (embora também tenha sido impressa também no maldito offset).

Pouco tempo depois, lançaram uma edição que era basicamente o mesmo projeto gráfico do meu exemplar mas com a capa que imitava a capa dura da edição de luxo. Também vinha em uma caixinha e acompanhava o álbum de imagens. Mas foi só. Um livro como esse merecia ser visualmente melhor representado, não acham?

Comentário Final: 624 páginas leves mas bem condensadas. Quebra alguns ossos.